sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Enuma Elish - O Mito de Criação Mesopotâmico

 Origens

O Enuma Elish, ou As Sete Tábuas da Criação, como é chamado o Mito Mesopotâmico da Criação consiste de sete tábuas de argila gravadas com escrita cuneiforme que foram encontradas nas ruínas da biblioteca de Assurbanípal na cidade de Nínive. Embora várias partes do texto estejam danificadas e a narração esteja repleta de lacunas, elas podem ser preenchidas com informações de outras fontes para completar o mito.

Tradução do Enuma Elish para o português a partir da tradução para o inglês de  W.G. Lambert:

Das civilizações que floresceram na região da Mesopotâmia durante o período histórico, a Suméria foi a primeira e mais antiga. Os mitos escritos mais antigos conhecidos são os sumérios e deve-se levar em conta que eles eram inspirados nas tradições passas oralmente de geração em geração, logo, as origens dessa mitologia ancestral estão perdidas em eras remotas da pré-história. O Enuma Elish é uma das histórias mais antiga já encontradas. Ela fala sobre a criação dos deuses, do mundo e da humanidade. Essas histórias foram copiadas inúmeras vezes no decorrer de milhares de anos e em muitas delas estão as raízes dos mitos bíblicos e de vários outros sistemas teológicos como as mitologias grega e egípcia.


O nome "Enuma Elish" faz referência às primeiras palavras do texto que são "Quando nas Alturas".

  O Mito

Tábua I

O mito começa da seguinte maneira: "Quando, nas alturas, os céus ainda não tinham nome,e a terra abaixo não havia ainda sido nomeada, existiu o Abzu, o pai da Criação, E existiu Tiamat, o Oceano Primordial, Útero do Universo, Mãe de Todos."

Abzu sempre foi relacionado às águas doces, principalmente as subterrâneas (Ab=distante, su=água) e, as fontes de onde brotavam águas subterrâneas eram reconhecidas como a manifestação do grande Abzu que está abaixo de tudo.

Tiamat era relacionada com as águas turbulentas do oceano e era representada como uma serpente marinha ou um dragão. Ela é o símbolo do Caos Primordial e separação inicial entre ela e Apsu simbolizavam a inércia daquele estado primitivo do ser. "Tiamat" significa "Oceano".

Quando o movimento inicial aconteceu, as águas de Apsu e Tiamat se misturaram e, o deus Lahmu e sua contraparte feminina, Lahamu, foram criados nos domínios celestiais e foram chamados à existência.

Eras se passaram e Lahmu e Lahamu geraram dois filhos: Anshar e sua irmã Kishar. Anshar e Kishar geraram Anu e sua irmã Antu.  Anu e Antu geraram Ea.

Ea / Enki
Ea (também conhecido como Enki ou Nundimmud) era um dos principais deuses da mitologia mesopotâmica. Quando nasceu foi descrito como o "senhor da sabedoria, maior que seus ancestrais e muito mais forte que Anshar."

Então, todos esses deuses viviam na anarquia  e suas agitações e festas começaram a perturbar seus criadores Abzu e Tiamat e causaram distúrbios em Anduruna (como era chamado o lugar onde os deuses viviam antes da criação do mundo).

Embora os nervos dos dois deuses ancestrais estivessem abalados, a princípio eles tentaram suportar as atitudes irresponsáveis de seus filhos. Porém, chegou um momento em que  Abzu não suportou mais e planejou destruir seus filhos. Ele chamou seu ministro Mummu e os dois foram até Tiamat para falar sobre como acabar com tudo aquilo. Mas Tiamat não suportou a ideia de matar seus próprios filhos. Ela entristeceu-se com as ideias de seu esposo e disse-lhe que eles deviam se conformar com as atitudes dos filhos e não matá-los. Então, Mummu aconselhou Abzu e os dois saíram da presença de Tiamat e foram fazer seus planos longe dela.

Mas Ea ficou sabendo que seu pai planejava matar a ele e seus irmãos e se adiantou. Ele criou um encantamento e o jogou nas águas de Abzu, fazendo-o dormir e o matou para depois ele aprisionar Mummu. No corpo enorme de Abzu ele fez usa casa e nela descansou enquanto segurava as correntes de Mummu firmemente em suas mãos. Mais tarde, quando o mundo fosse criado, o Abzu se tornaria o submundo para onde os mortos iam e de onde brotavam as águas doces e ficaria abaixo da terra. E, como Ea havia tornado-se senhor de Abzu, ele era também o senhor das águas doces e por isso era representado com dois rios saindo dos ombros onde nadavam peixes de água doce.

Bel-Marduk
Então, em Abzu, Ea e sua esposa Damkina geraram um filho e o chamaram Marduk.

Desde seu nascimento, Marduk fora o mais poderoso e fantástico entre todos os deuses e cresceu rapidamente amamentado por Damkina. Ele tinha quatro olhos e quatro orelhas, seus olhos fulguravam com um brilho cegante, era impossível compreendê-lo com a mente, ele era superior a todos os seus irmãos ancestrais, ele era o deus- sol, sua aura aterrorizante equivalia à de dez deuses, sua língua era de fogo e seus braços e pernas eram incrivelmente fortes.

Anu criou os quatro ventos (Norte, Sul, Leste e Oeste) e os deu de presente a Marduk e a perturbação em Tiamat cresceu terrivelmente.

Os deuses mandaram uma mensagem a ela provocando-a e chamando-a para a guerra, pois, depois do nascimento de Marduk, eles sabiam que podiam tornar-se independentes da deusa-mãe. Eles disseram na mensagem que Tiamat era covarde, pois seu esposo Abzu havia sido assassinado e ela simplesmente ficara em silêncio. Ele s queriam que ela se levantasse e fizesse guerra, senão suas atitudes tornariam-se cada vez mais desordeiras até que ela não aguentasse mais.

Tiamat aceitou a provocação e vários deuses ficaram ao seu lado. Ela convocou um exército de terríveis criaturas monstruosas. Sua aliada, a deusa Hubur, "aquela que dá forma às coisas" fabricou armas invencíveis de guerra e criou "serpentes gigantes de dentes afiados e presas impiedosas com veneno no lugar de sangue e as revestiu de terror." Ela criou a "Hidra, o Dragão, o Herói Cabeludo, o Grande Demônio, o Cão Selvagem e o Homem-Escorpião, demônios ferozes, o Homem-Peixe e o Homem-Touro. Eles portavam armas cruéis e não temiam a luta. Além disso Tiamat fez onze monstros." Para ser o comandante esse exército infernal ela nomeou seu novo esposo, Kingu, a quem ela própria havia gerado, para ser o maior entre os Anunnaki ("aqueles que desceram do céu para a terra", ou seja os deuses). Ela lhe deu as Tábuas do Destino que antes pertenciam a Anu e ele adquiriu imenso poder entre seus semelhantes.

Tábua II

Tiamat havia reunido suas tropas e Ea fazia o mesmo quando percebeu o imenso poder que a grande Mãe havia reunido e decidiu acalmar-se e ir falar com Anshar, pai de seu pai para pedir aconselhamento. Anshar falou que ele deveria ir até Tiamat e matá-la do mesmo modo como matara Abzu, usando seu encantamento.

Ea foi até ela enquanto ela dormia, mas ao se aproximar ele teve medo diante da figura monstruosa dela e das criaturas que a rodeavam. Ele recuou e foi falar novamente com Anshar e disse que o poder dela era demais para ele e que mandasse outro para matá-la. Então, Anshar, decepcionado com seu neto, mandou Anu, seu filho, mas aconteceu o mesmo, quando ele se aproximou ele a temeu e recuou dizendo a seu pai que o poder de Tiamat era muito imenso para ele.

Assim, Ea teve a ideia de mandar seu filho, Marduk, o mais poderoso de todos, para a batalha. E se ele não conseguisse derrotá-la, ninguém mais poderia.

Marduk aceitou a missão, mas impôs uma condição. Ele foi até a assembleia dos grandes deuses e falou na presença de Anshar que, antes de enfrentar a inimiga, ele deveria ser nomeado rei e senhor de todos os deuses: "Se hei de tornar-me vosso Vingador, se dei de derrotar Tiamat, convoca uma reunião e deixa que eu decrete os destinos em vosso lugar."
Tiamat representada como uma serpente gigante carregando seu exercito nas costas.


Tábua III

Depois de ouvir a proposta, Anshar mandou seu ministro, Gaga para chamar Lahmu e Lahamu para que comparecessem à assembleia que decidiria o destino de Marduk. Eles ficaram surpresos e assustados, pois não sabiam do que estava acontecendo partiram para se reunir com os outros deuses para decidir o que fazer. (Esta tábua é extremamente repetitiva retomando vários trechos das tábuas anteriores para descrever as falas de uns deuses ao relatar a situação aos outros.)

Tábua IV

Na assembleia, os grandes deuses comeram e beberam até que seus ânimos ficaram alegres e eles deram a Marduk o direito de comandar todos os deuses e ele se tornou seu Rei. Eles lhe presentaram com armas terríveis e lhe disseram: "Vai e derrota Tiamat. Deixa que os ventos carreguem seu sangue para trazer-nos a notícia".  E Marduk partiu na estrada para Tiamat.

No caminho ele construiu um arco e flechas. Fabricou uma rede para aprisionar Tiamat e criou sete ventos a partir dos quatro que Anu havia lhe dado. Sua arma mais poderosa era chamada de a "Tempestade Diluviana". Ele cavalgava uma carruagem terrível puxada por quatro terríveis cavalos de dentes afiados e venenosos. Em sua cabeça ele usava uma aura de horror.
Marduk atacando Tiamat com seu arco e flechas.

Quando aproximou-se dela, Marduk, por um momento, intimidou-se com seu exercito e seu comandante, Kingu. Tiamat proferiu maldições e mentiras, mas ele devolveu as provocações e a fez levantar em fúria, e foi nesse momento que ela expôs sua barriga. Marduk atirou uma flecha e acertou seu alvo. Depois ele jogou sua rede e dilacerou as entranhas dela. Quando Tiamat caiu ele pisou sobre seu corpo e esmagou seu crânio com sua poderosa clava.

Quando viram sua criadora derrotada, os soldados de Tiamat entraram em pânico e tentaram fugir, mas Marduk os capturou em sua rede junto a Kingu do qual ele retirou as Tábuas do Destino que não eram suas por direito.
Tiamat e Marduk

Tábua V

Esta tábua narra o que Marduk fez depois de derrotar Tiamat.

Ele criou estâncias celestes para os deuses que seriam os lugares em que eles habitariam nos céus, possivelmente referindo-se às constelações zodiacais. Depois ele determinou os movimentos dos astros que serviriam para marcar o tempo. Ele gerou a deusa Nannar (a Lua) e a nomeou guardiã da noite dando-lhe instruções sobre as diferentes fases da lua que ela mostraria a cada semana para marcar a passagem dos meses. Ele estabeleceu a estância de Nibiru que era o local marcado no céu noturno onde o sol nascia no solstício de verão.

Marduk dividiu o corpo de Tiamat. Ele esticou sua pele e fez o teto do céu diurno. Da espuma de Tiamat ele fez as nuvens, de sua saliva ele fez as névoas, com seus seios ele criou altas montanhas, de suas orbitas vazias ele fez nascerem os rios Tigre e Eufrates, escavou seu corpo para fazer os leitos dos rios, etc. Ele criou os decretos e as leis da natureza, trazendo à existência o mundo como conhecemos. Depois ele colocou as Tábuas dos destinos nas mãos de Ea e fundou a Babilônia para ser um local de descanso para os deuses.

Tábua VI

Marduk dividiu os deuses em dois grupos, os deuses do céu e os deuses do submundo, ou seja, de Abzu.

Depois de haver criado todas as coisas, Marduk ouviu os deuses reclamarem pois aquele novo mundo exigiria muita labuta e muito trabalho. Então ele resolveu aliviar seus irmãos dos esforços do mundo criando o homem.

Embora a ideia de criar o Lulu (trabalhador primitivo) tenha sido de Marduk, ele não o fez com suas próprias mãos, mas ordenou que outros deuses levassem a cabo a empreitada.

No Enuma Elish é dito que Marduk ordenou que Kingu fosse morto e que de seus restos fosse fabricado o Adamu, o primeiro homem. Ea, utilizando da astúcia do próprio Marduk confeccionou criatura humana. Porém, o processo mais detalhado de criação do ser humano pode ser encontrado no texto do Atrahasis.

Depois os deuses começam a reafirmar a superioridade de Marduk e começam a recitar seus cinquenta nomes e seus significados.

Tábua VII

A última tábua do Enuma Elish  complementa os cinquenta nomes de Marduk numa espécie de oração dos deuses para seu deus, exaltando exaustivamente a figura de Marduk finalizando o conto das Sete Tábuas da Criação.

O fato de haver inúmeras repetições no texto original indica que o mito completo era recitado ritualmente do início até o fim em determinadas cerimônias como uma homenagem a Marduk.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Enuma Elish - Tábua VII

    Tábua VI << Tábua VII
    1. (10) ASARRE, aquele que nos deu a terra arável e criou o arado.
    2. Criador da cevada e do linho, aquele que fez as plantas crescerem.
    3. (11) ASARALIM, que é reverenciado na câmara do conselho.
    4. Os deuses o escutam e o temem.
    5. (12) ASARALIMNUNNA, o nobre, portador da luz de seu pai, seu progenitor.
    6. Que comanda os decretos de Anu, Enlil e Ea, Ninshiku.
    7. Ele é o provedor que preenche as necessidades.
    8. Aquele que multiplica os bens da terra.
    9. (13) TUTU, que possibilita a renovação.
    10. Que ele purifique seus santuários para que eles repousem.
    11. Que ele crie um encantamento que traga descanso aos deuses.
    12. Quando eles levantarem-se furiosos, que se acalmem.
    13. Ele será exaltado na assembleia dos deuses, seus ancestrais.
    14. Ninguém entre os deuses pode se igualar a ele.
    15. (14) TUTU-ZIUKKINA, a vida de sua morada.
    16. Que preparou os céus para os deuses.
    17. Que cuidou de seus caminhos e nomeou suas estâncias.
    18. Que não seja esquecido entre os mortais, mas seja lembrado por seus feitos.
    19. (15) TUTU-ZIKU, como foi chamado na terceira vez, o instaurador da pureza.
    20. O deus da brisa suave, senhor do sucesso e da obediência.
    21. Aquele que produz riqueza e recompensa, o que proporciona a abundância.
    22. Que transforma a escassez em profusão.
    23. Brisa suave que respiramos em momentos de tormenta.
    24. Que os homens repitam para sempre suas palavras, que eles o idolatrem.
    25. (16) TUTU-AGAKU, como foi exaltado na quarta vez.
    26. Senhor do encantamento puro, que traz os mortos de volta à vida.
    27. Que demonstrou piedade para com os deuses aprisionados.
    28. Que fez o julgamento sobre os deuses inimigos.
    29. E, para poupá-los, criou a humanidade.
    30. O misericordiosos que tem o poder de restaurar vida.
    31. Que suas palavras não sejam nunca esquecidas,
    32. Nem retiradas das bocas dos cabeças-pretas, suas criaturas. 
    33. (17) TUTU-TUKU, o quinto, que dá expressão ao puro encantamento.
    34. Que extirpou os maldosos com seu poder puro.
    35. (18) SHAZU, que conhecia o coração dos deuses e viu seus reinos.
    36. Que não deixou nenhum fazedor de maldades escapar.
    37. Que criou a assembleia dos deuses e alegrou seus orações.
    38. QUe subjugou os desobedientes, ele é o deus da compaixão protetora.
    39. Ele fez a verdade prosperar e condenou o discurso perverso.
    40. Separou o que é falso do que é verdadeiro.
    41. (19) SHAZU-ZISI, em segundo lugar, que seja sempre glorificado o opressor dos agressores.
    42. Que retirou a consternação da vida do deuses, seus antepassados.
    43. (20) SHAZU-SUHRIM, em terceiro, que derrotou todos os inimigos com suas armas.
    44. Que confrontou seus planos e os transformou em vento.
    45. Ele aniquilou todos os perversos que encontrou pelo caminho.
    46. Que os deuses sempre o aclamem nas assembleias.
    47. (21) SHAZU-SUHGURIM, em quarto lugar, ele trouxe sucesso para os deuses.
    48. Ele destruiu os inimigos e acabou com suas crias.
    49. Devastou seus feitos e não deixou nenhum pedaço deles.
    50. Que seu nome seja falado e proclamado nas terras.
    51. (22) SHAZU-ZAHRIM, em quinto, que as gerações futuras falem sobre ele.
    52. O destruidor dos rebeldes e dos desobedientes.
    53. Que trouxe os deuses fugitivos para dentro dos santuários.
    54. Que esse seu nome seja glorificado.
    55. (23) SHAZU-ZAHGURIM, em sexto, que todos o idolatrem juntos.
    56. Ele que destruiu em batalha todos os rivais.
    57. (24) ENBILULU, o senhor que dá tudo em abundância.
    58. O grande escolhido que oferece os cereais.
    59. Que criou e mantém a pastagem e a irrigação em boas condições.
    60. Que abriu os cursos d'água e distribuiu em abundância.
    61. (25) ENBILULU-EPADUN, senhor da terra [...]
    62. Supervisor do que está acima e do que está abaixo.
    63. Que estabelece terra arável em todo campo.
    64. (26) ENBILULU-GUGAL, em terceiro, o supervisor dos cursos d'água divinos.
    65. Senhor da abundância, profusão e enormes estoques de grão.
    66. Que providencia a plenitude e enriquece os lares humanos.
    67. Que fezo trigo e que traz o grão à existência.
    68. (27) ENBILULU-GEGAL, que fornece abundância aos povos.
    69. Que derrama a chuva fértil nas terras e alimenta a vegetação.
    70. (28) SIRSIR, aqueles que fez uma montanha em cima de Tiamat.
    71. Que saqueou o corpo de Tiamat com suas armas.
    72. O guardião da terra, seu pastor fiel.
    73. Seu cabelo é a plantação que cresce.
    74. Ele cruza o mar em sua fúria.
    75. E sempre cruza pelo local da batalha como se fosse uma ponte.
    76. (29) SIRSIR-MALAH, em segundo lugar, assim seja.
    77. Tiamat era seu barco e ele era o marinheiro.
    78. (30) GIL, que empilha o trigo colhido até formar uma montanha.
    79. O criador do grão e do trigo que fornece as sementes para a terra.
    80. (31) GILIMA, aquele que uniu os deuses e criou a estabilidade.
    81. A armadilha que os oprimiu, mas que ainda é bondosa com eles.
    82. (32) AGILIMA, o sublime que usa a coroa e comanda a neve.
    83. Que criou a terra na água e tornou firme o alto dos céus.
    84. (33) ZULUM, que dá propósito aos deuses e compartilha o que criou.
    85. Que faz as oferendas de comida, que administra os santuários.
    86. (34) MUMMU, criador do céu e do submundo, o que protege os refugiados.
    87. O deus que purifica o céu e o submundo, ZULUMMU.
    88. Mesmo entre os mais fortes, nenhum deus pode se igualar a ele.
    89. (35) GISHNUMUNAB, criador de todos os povos e demarcador de todas as regiões.
    90. O destruidor dos deuses de Tiamat e fez as pessoas com suas partes.
    91. (36) LUGALABDUBUR, O rei que desmantelou o trabalho de Tiamat e quebrou suas armas.  
    92.  cuja fundação é segura no antes e no depois.
    93. (37) PAGALGUENNA, magnânimo de todos os deuses cuja força é suprema.
    94. O maior entre os deuses, seus irmãos, o mais nobre de todos.
    95. (38) LUGALDURMAH, senhor da união dos deuses de Durmahu.
    96. Aquele que é o maior na morada real, infinitamente mais sublime que os outros deuses.
    97. (39) ARANUNNA, conselheiro de Ea, criador dos deuses, seus ancestrais.
    98. Cujo andar majestoso não pode ser comparado.
    99. (39) DUMUDUKU, que renova para si mesmo sua morada de pureza em Duku.
    100. Dumuduku sem o qual Lugalduku não pode tomar decisões.
    101. (41) LUGAKSHUANNA, o rei cuja força é exaltada entre os deuses.
    102. O Senhor, força de Anu, aquele que é supremo, escolhido de Anshar.
    103. (42) IRUGGA, que saqueou o oceano.
    104. Que abrange todo o conhecimento, é compreensivo.
    105. (43) IRKINGU, que derrotou Kingu na batalha.
    106. Que dirige todos os decretos e estabelece a soberania.
    107. (44) KINMA, diretor de todos os deuses, o conselheiro.
    108. Os deuses inclinam-se sob seu nome como se fosse um furacão.
    109. (45) DINGIR-ESISKUR, que ele tome assento supremo na Casa da Bênção.
    110. Que os deuses tragam seus presentes a ele.
    111. E que ele receba suas ofertas.
    112. Ninguém além dele é capaz de atos de inteligência.
    113. As quatro regiões dos cabeças-pretas são sua criação.
    114. Longe dele nada de bom pode existir.
    115. (46) GIRRU,aquele que constrói armas poderosas.
    116. Que realizou atos inteligentes e lutou contra Tiamat.
    117. Compreensivo, sábio e habilidoso.
    118. Uma mente profunda que todos os deuses juntos são incapazes de compreender.
    119. (47) ADDU, que ele cubra toda a extensão do céu.
    120. Que sua bela voz seja um trovão sobre a terra.
    121. Que ele preencha as nuvens com seu som e dê sustentação às pessoas abaixo.
    122. (48) ASHA-RU, aquele que convocou os Destinos Divinos.
    123. Ele é o comandada de absolutamente todos os povos.
    124. (49) NIBIRU, aquele que cruza o espaço do céu e do submundo.
    125. Ninguém deve cruzar acima ou abaixo, mas sim esperar por ele.
    126. Nibiru é sua estrela que ele fez brilhar no céu.
    127. Que ele assuma seu lugar nas escadas celestiais e que todos olhem para ele.
    128. Sim, ele que sempre cruza o Mar sem descasar.
    129. Que seu nome seja Nibiru, o que aperta o meio.
    130. Que ele determine os caminhos das estrelas no céu.
    131. Que ele seja o pastor e os deuses sejam suas ovelhas.
    132. Que ele ameace Tiamat e coloque sua vida em perigo mortal.
    133. Para as gerações ainda não nascidas em futuros distantes,
    134. Que ele continue incólume e que persista pela eternidade.
    135. Ele criou os céus e fabricou a terra.
    136. Enlil, o pai, chamou o com seu próprio nome, (50) SENHOR DAS TERRAS,
    137. Ea ouviu todos os nomes que os Igigi chamaram.
    138. E seu espírito ficou radiante.
    139. "Seu nome foi exaltado por todos seus ancestrais.
    140. Que ele, assim como a mim, seja chamado de (51) EA.
    141. Que ele controle a realização de todos os meus rituais.
    142. E que ele administre meus decretos.
    143. Com a palavra "Cinquenta", os grandes deuses,
    144. Chamaram seus cinquenta nomes e o colocaram na fantástica posição.
    145. Os nomes deverão ser lembrados, uma figura de líder deverá ensiná-los.
    146. Os sábios deverão falar sobre eles;
    147. O pai deverá ensinar sobre eles para seus filhos.
    148. Uma pessoa deverá explicá-los e guiar os rebanhos humanos.
    149. Aquele que não é negligente a Marduk, o Enlil dos deuses
    150. Verá sua terra florescer e prosperará.
    151. Pois sua palavra é confiável e seu comando é imutável.
    152. nenhum deus pode alterar a palavra de sua boca.
    153. Quando ele se enfurece, ele não recua.
    154. Quando sua fúria se levanta, nenhum deus pode enfrentá-lo.
    155. Suam mente é profunda e seu espírito é todo-abrangente.
    156. Perante ele o pecador e o transgressor serão severamente punidos.
    157. As instruções que o líder repetiu diante de Marduk,
    158. Ele escreveu e as guardou para que as gerações vindouras pudessem conhecer.
    159. [...] Marduk, o criador dos deuses Igigi.
    160. Quando em perigo [...] que chamem seu nome.
    161. [...] canção de Marduk.
    162. Que derrotou Tiamat e tornou-se Rei.
    Tábua VI << Tábua VII

    Enuma Elish - Tábua VI

    Tábua V << Tábua VI >> Tábua VII

    1. Quando Marduk ouviu o discurso dos deuses,
    2. Ele teve o desejo de realizar uma obra de grande engenhosidade.
    3. Ele abriu a boca e dirigiu-se a Ea,
    4. E falou-lhe aquilo que havia concebido em seu coração:
    5. "Meu sangue eu juntarei e fabricarei osso,
    6. Eu farei existir o Lulu, cujo nome será "homem".
    7. Eu farei a criatura Lulu.
    8. E essa criatura realizará a labuta dos deuses e podereis descansar.
    9. Eu alterarei o modo como os deuses são vistos:
    10. E, embora todos sejam unidos, eu os dividirei em duas variedades." 
    11. Ea respondeu dirigindo palavras a ele,
    12. Expressando suas considerações sobre o descanso dos deuses:
    13. "Que um dos deuses  seja entregue e punido,
    14. Deixai que ele pereça para que sirva de exemplo.
    15. Que os grandes deuses se reúnam em assembleia,
    16. E que o culpado pela guerra contra Tiamat seja entregue."
    17. Marduk reuniu os grandes deuses.
    18.  Usando sábias palavras ele deu suas ordens.
    19. Os deuses concentraram-se no discurso.
    20. Ele dirigiu a palavra aos Anunnaki:
    21. "Vosso juramento foi verdadeiro.
    22. E agora, novamente, dizei-me a solene verdade,
    23. Quem foi aquele que iniciou a guerra?
    24. Quem enfureceu Tiamat e colocou o conflito em curso?
    25. Que aquele que começou a guerra seja entregue!
    26. Que eu imponha minha punição a ele enquanto vós descansais."
    27. Os Igigi, grandes deuses ouviram
    28. E responderam a Lugaldimmerankia, o senhor dos deuses:
    29. "Foi Kingu quem iniciou a guerra.
    30. Foi Kingu quem enfureceu Tiamat e fez colocou conflito em curso."
    31. Eles o trouxeram e seguraram perante Ea.
    32. Eles infligiram-lhe a penalidade e cortaram seus vasos sanguíneos.
    33. E do sangue dele, Ea criou a humanidade.
    34. E à humanidade ele impôs o serviço pesado que foi tirado dos deuses.
    35. O sábio Ea criou a humanidade,
    36. E investiu-a com a labuta dos deuses-
    37. Uma labuta além da compreensão.
    38. Ea Nundimmud Usara a habilidade de Marduk em sua criação.
    39. E então, o Rei Marduk dividiu os deuses.
    40. Dividiu os Anunnaki entre os níveis superiores e inferiores.
    41. Ele colocou 300 deles nos domínios celestiais para guardar os decretos de Anu.
    42. E os nomeou guardiães.
    43. Depois ele organizou o submundo,
    44. Onde colocou outros 600.
    45. Depois de organizar todos os decretos,
    46. E haver distribuído funções entre os Anunnaki celestiais e do submundo,
    47. Os Anunnaki abriram suas bocas,
    48. E dirigiram-se a seu senhor, Marduk:
    49. "Agora que estabeleceste nossa liberdade, senhor,
    50. O que podemos fazer em agradecimento?
    51. Faremos um santuário de grande renome.
    52. Tua casa será nosso local de descanso onde poderemos repousar.
    53. Construiremos um santuário que abrigará um pedestal,
    54. Onde poderemos repousar depois do trabalho da construção."
    55. Quando Marduk ouviu isso ,
    56. Ele resplandeceu como a luz do dia.
    57. "Construí vós a Babilônia, esta é a missão que procurastes.
    58. Que os tijolos sejam moldados e que o santuário seja erguido."
    59. Então, os Anunnaki empunharam as ferramentas.
    60. Durante um ano inteiro eles fabricaram tijolos.
    61. Quando o segundo ano chegou,
    62. Eles ergueram o pico de Esagil, a réplica de Abzu.
    63. E construíram uma torre suntuosa para Abzu.
    64. Construiram um [...] para Anu, Enlil e Ea.
    65. Cheio de esplendor ele era.
    66. Eles contemplaram suas torres que faziam frente a E-sara.
    67. Depois que haviam completado o trabalho em Esagil,
    68. Cada Anunnaki construiu seu próprio santuário.
    69. Os 300 Igigi dos céus e 600 do Abzu fizeram uma assembleia.
    70. Bel-Marduk recebeu os deuses, seus ancestrais
    71. No suntuoso santuário que eles haviam construido para ser sua casa. 
    72. Ele disse: "Esta é a Babilônia, vosso local de descanso.
    73. Ficai à vontade aqui. Descansai com alegria."
    74. Os grandes deuses se sentaram.
    75. Canecas de cerveja foram servidas na mesa.
    76. Depois que eles haviam desfrutado,
    77. Eles foram servidos na fabulosa Esagil.
    78. As leis e os regulamentos foram todos confirmados.
    79. Todos os deuses dividiram as estâncias do céu e do submundo.
    80. O grupo dos cinco maiores deuses tomaram seus assentos.
    81. Os sete deuses dos destinos foram nomeados para tomar decisões.
    82. Bel tomou sua arma, o arco, e apresentou-o a eles.
    83. Seus ancestrais divinos viram a arma que ele havia feito.
    84. Eles viram o quão fora habilidosa a forja de sua estrutura.
    85. E eles louvaram aquilo que ele havia feito.
    86. Anu pegou-o e o ergueu perante a divina assembleia.
    87. Ele beijou o arco dizendo: "Esta é minha filha."
    88. E ele chamou o arco por seus nomes:
    89. "Longa Vara" foi o primeiro; o segundo foi "Aquele que acerta o alvo".
    90. Com o terceiro nome: "Arco Estrelar", ele o fez brilhar no céu.
    91. E fixou sua posição celestial junto com seus divinos irmãos.
    92. Depois que Anu havia decretado o destino do Arco,
    93. Ele preparou um trono real, suntuoso demais até mesmo para um deus.
    94. E ali ele fez a reunião dos deuses.
    95. Os grandes deuses se reuniram.
    96. Eles exaltaram o destino de Marduk e juraram obediência.
    97. E invocaram uma maldição sobre si mesmos.
    98. Fizeram um juramento com óleo e água e colocaram as mãos em suas gargantas.
    99. E garantiram a Marduk o direito de exercer o governo sobre os deuses.
    100. Eles o proclamaram Senhor dos deuses do céu e do submundo.
    101. Anshar deu-lhe um nome exaltado: Asalluhi:
    102. "Quando este nome for pronunciado, demonstraremos nossa submissão.
    103. Quando ele falar, que os deuses lhe deem atenção.
    104. Que seu comando seja supremo nas estâncias superiores e inferiores..
    105. Que o Filho, nosso Vingador seja exaltado.
    106. Que seu reinado seja supremo e que ele não tenha rivais.
    107. Que ele seja o pastor de suas criaturas, os cabeças-pretas (humanidade).
    108. Que eles propaguem a figura de seu rei para as gerações vindouras.
    109. Que eles produzam comida em abundância para oferecer a seus antepassados.
    110. Que eles sejam os vigias e cuidadores dos santuários.
    111. Que ele queime o incenso para alegrar os templos.
    112. Que ele  faça na terra o mesmo que fez no céu.
    113. Que ele nomeie os cabeças-pretas para idolatrá-lo.
    114. O sujeito humano deverá chamar seus deuses.
    115. Quando ele comandar, eles deverão obedecê-lo.
    116. Que oferendas de comida sejam trazidas para seus deuses e deusas.
    117. Que eles não se esqueçam; que eles lembrem-se de seus deuses.
    118. que eles [...] seus [...] santuários
    119. Mesmo que os cabeças-pretas adorarem algum outro deus,
    120. Eles deverá sempre ser o deus de cada um de nós!
    121. Vinde, chamemos seus cinquenta nomes.
    122. Aquele cuja natureza é resplandecente assim como suas conquistas.
    123. (1) MARDUK, como ele foi chamado por seu pai no dia em que nasceu.
    124. Aquele que fornece pastos e os rega, fazendo-os florecer.
    125. Que aprisionou a besta orgulhosa com sua arma, a Tempestade Diluviana.
    126. E salvou seus ancestrais, os deuses, da destruição.
    127. Ele é o Filho, o Deus-Sol, ele resplandece.
    128. Caminhemos sempre a seu lado.
    129. Às pessoas que ele criou, os seres vivos,
    130. Ele impôs a labuta dos deuses e nós pudemos descansar.
    131. Criação e aniquilação, piedade e castigo,
    132. Tudo acontece sob seu comando, então que eles fixem seu olhos sobre ele.
    133. (2) MARUKKA: o deus criador.
    134. Que colocou os Anunnaki em paz e os Igigi para descansar.
    135. (3) MARUTUKKU: a fundação da terra, das cidades e dos povos.
    136. Então que os povos sempre o saúdem.
    137. (4) MERSHAKUSHU: feroz, porém ponderado, raivoso, mas atencioso.
    138. Sua mente é ampla e seu coração é todo-abragente.
    139. (5) LUGALDIMMERANKIA: este é o nome que demos a ele.
    140. Aquele cujo comando fora exaltado acima dos deuses, seus antepassados.
    141. Ele é o senhor de todos os deuses do céu e do submundo.
    142. O rei que ordena e faz tremer as estâncias superiores e inferiores.
    143. (6) NARILUGALDIMMERANKIA: este é o nome que demos a ele, o mentor dos deuses.
    144. Que estabeleceu nossas moradas no céu e no submundo em tempos tumultuados. 
    145. Que distribuiu as estâncias celestiais entre os Igigi e os Anunnaki.
    146. Que os deuses temam seu nome e tremam com sua voz.
    147. (7) ASALLUHI: o nome pelo qual seu pai Anu o chamou.
    148. Ele é a luz dos deuses, um heróis poderoso.
    149. Como seu nome diz, ele é o protetor dos deuses e das terras.
    150. Aquele que num combate terrível salvou nossos lares em tempos turbulentos.
    151. (8) ASALLUHI-NAMTILA: como o chamamos na segunda vez, o deus que concede a vida.
    152. Que em concordância com seu nome restaurou todos os deuses em ruína.
    153. O senhor que trouxe os deuses mortos de volta à vida com seu encantamento puro.
    154. Louvemo-lo como destruidor dos perversos inimigos.
    155. (9) ASALLUHI-NAMRU: como o chamamos na terceira vez.
    156. O deus de pureza que limpou nossas vidas."
    157. Anshar, Lahmu e Lahamu chamaram-no por três nomes diferentes.
    158. Eles dirigiram-se aos deuses, seus filhos:
    159. "Cada um de nós o chamou por um nome diferente,
    160. Agora chamem seus nomes como nós o fizemos."
    161. E os deuses regozijaram ao ouvir aquelas palavras.
    162. Eles fizeram uma reunião em Upshuukkinaki.
    163. "Do guerreiro filho, nosso Vingador,
    164. Exaltemos o nome do provisionador."
    165. Eles sentaram-se na assembleia determinando os destinos,
    166. E, de acordo com os ritos apropriados, eles chamaram os nomes:
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    segunda-feira, 7 de setembro de 2015

    Enuma Elish - Tábua V

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    1. Ele construiu estâncias celestiais para os deuses,
    2. Alterou os padrões das estrelas, fez constelações e imprimiu suas imagens.
    3. Numerou os anos e fez divisões no tempo.
    4. E separou três estrelas para cada um dos doze meses.
    5. Depois de organizar o ano,
    6. Estabeleceu a estância celeste de Nibiru, para demarcar os intervalos das estrelas,
    7. Tal estância ninguém deveria transgredir.
    8. Próximo dali ele estabeleceu as estâncias celestiais de Enlil e Ea.
    9. E abriu portões de ambos os lados.
    10. E colocou ferrolhos poderosos de ambos os lados.
    11. Posicionou as alturas celestiais na barriga de Tiamat e no meio fixou o zênite.
    12. Ele criou e fez brilhar o deus Nannar e confiou-lhe a Noite.
    13. Ele o nomeou Joia da Noite para que marcasse os dias,
    14. E para que marcasse os meses exaltou-o com uma coroa.
    15. Ele disse-lhe: "Brilha e ilumina as terras no começo do mês,
    16. Resplandece com chifres para marcar os dias.
    17. No sétimo dia, tua coroa terá metade do tamanho.
    18. No décimo quinto dia, na metade de cada mês, fica em tua posição.
    19. Quando Shamash o vir no horizonte,
    20. Diminui-te de acordo com tuas fases e brilha ao contrário.
    21. No vigésimo nono dia, aproxima-te do caminho de Shamash.
    22. No trigésimo dia, fica em conjunção e desafia Shamash.
    23. Eu tenho [...] o sinal, siga seu caminho.
    24. Aproxima-te [...] faz teu julgamento.
    25. [...] Shamash, impede assassinato e violência.
    26. [...] a mim.
    27. [...]
    28. [...]
    29. [...]
    30. [...]
    31. [...]
    32. [...]
    33. [...]
    34. [...]
    35. Ao final [...]
    36. Deixe que venha o vigésimo nono dia [...]"
    37. Depois que ele [...] os decretos [...]
    38. A organização na frente [...]
    39. Ele fez o dia [...]
    40. Igualou o ano [...]
    41. No ano novo [...]
    42. O ano [...]
    43. Que seja regular [...]
    44. O ferrolho saliente [...]
    45. Depois que ele [...]
    46. Os vigilantes do dia e da noite [...]
    47. Da espuma que Tiamat [...]
    48. Marduk fabricou [...]
    49. Colocou tudo junto e formou as nuvens.
    50. A fúria dos ventos, tempestades violentas,
    51. A umidade da névoa - acumulação da saliva de Tiamat,
    52. Ele as tomou para si e segurou em sua mão.
    53. Colocou a cabeça de Tiamat na posição e derramou [...]
    54. Ele abriu o abismo e a encheu com água.
    55. De deus dois olhos ele fez nascer os rios Tigre e Eufrates.
    56. Bloqueou suas narinas e deixou [...]
    57. E fez montanhas distantes com seus seios.
    58. E fez canais para guiar os cursos d'água.
    59. Torceu o rabo dela e fez o Durmahu.
    60. [...] o Abzu abaixo de seus pés.
    61. Ele preparou a pele dela - que se estendia até os céus -
    62. Metade dela ele esticou e fez ficar firme como a terra.
    63. Depois de ter terminado seu trabalho dentro de Tiamat,
    64. Ele desamarrou sua rede e deixou tudo sair.
    65. E contemplou os céus e a Terra [...]
    66. [...] suas ligações [...]
    67. Depois de ter formulado suas leis e criado seus decretos,
    68. Ele prendeu rédeas e as colocou nas mãos de Ea.
    69. As Tábuas do Destino, que Kingu uma vez portara,
    70. Ele pegou como um troféu e presenteou Anu.
    71. O [...] da batalha que ele havia amarrado em sua cabeça,
    72. [...] ele trouxe diante de seus ancestrais.
    73. Agora, as onze criaturas que Tiamat havia criado e [...]
    74. Ele quebrou suas armas e amarrou-as a seus pés.
    75. Fez imagens delas e as colocou nos portões de Abzu.
    76. Para que servissem de lembrança daquilo que nunca deveria ser esquecido.
    77. Os deuses viram e ficaram cheios de alegria.
    78. Lahmu, Lahamu e todos seus ancestrais.
    79. Anshar abraçou-o e concedeu-lhe o título de Rei Vitorioso.
    80. Anu, Enlil e Ea deram-lhe presentes.
    81. Mãe Damkina, que o havia gerado, saudou seu filho.
    82. Vestiu-o com uma túnica festiva e fez seu rosto brilhar.
    83. A Usmu que estava ali segurando o presente dela,
    84. Ele confiou a jurisdição de Abzu e encarregou-o de cuidar dos lugares sagrados.
    85. Os Igigi se juntaram e todos fizeram reverências.
    86. Todos os Anunnaki beijaram seus pés.
    87. Todos se uniram para mostrar sua submissão.
    88. [...] eles curvaram-se e disseram: "Contemplem o Rei!"
    89. Seus ancestrais [...] e apreciaram sua beleza.
    90. Bel-Marduk ouviu seus louvores estando ainda coberto com a poeira da batalha.
    91. [...]
    92. Ungiram seu corpo com [...] perfume de cedro. 
    93. Ele se vestiu com sua túnica real.
    94. A coroa do terror era sua aura real.
    95. Ele pegou sua clava e a segurou na mão direita.
    96. [...] engasgou a seus pés.
    97. [...]
    98. [...] colocou seus pés.
    99. Ele colocou sobre [...]
    100. O cetro da prosperidade e sucesso ele segurou a seu lado.
    101. Depois ele [...] a aura.
    102. Ele adornou seu reino, o Abzu, com um terrível [...]
    103. Ficou colocado como [...]
    104. Em sua sala do trono [...]
    105. em sua cella [...]
    106. Cada um dos deuses [...]
    107. Lahmu e Lahamu [...]
    108. Abriram suas bocas e dirigiram-se aos deuses Igigi:
    109. Antes Marduk era nosso amado filho,
    110. Agora ele é vosso rei, obedecei vosso comandante.
    111. Depois todos eles falaram juntos:
    112. Seu nome é Lugaldimmerankia, confiai nele!"
    113. Quando eles deram o poder a Marduk,
    114. Eles lhe deram uma bênção de sucesso e prosperidade.
    115. "Daqui para frente tu serás o protetor de nosso santuário.
    116. O que quer que comandes, nós faremos."
    117. Marduk abriu sua boca para falar,
    118. E dirigiu-se aos deuses seu ancestrais:
    119. "Acima de Abzu haverá a casa da esmeralda,
    120. Que é o reflexo de  E-sara, e a qual eu construí para vós,
    121. Abaixo dos domínios celestiais, onde fiz o chão firme,
    122. Eu construirei uma casa para ser minha luxuosa morada.
    123. Dentro dela eu farei um santuário.
    124. Lá eu estabelecerei a sede do meu reinado.
    125. Quando vierdes das profundezas do Abzu para se reunirem,
    126. Lá será vosso lugar de descanso antes das assembleias.
    127. Quando descerdes dos céus para se reunirem,
    128. Lá será vosso lugar de descanso antes das assembleias.
    129. E o nome desse lugar será Babilônia, O Lar dos Grandes Deuses."
    130. E lá realizaremos um festival que será o festival do anoitecer.
    131. Os deuses, seus ancestrais, ouviram seu discurso,
    132. [...] eles disseram,
    133. "No que diz respeito a tudo isso que fizeste com tuas mãos,
    134. Quem tem teu [...]?
    135. No que diz respeito à terra que fizeste com tuas mãos,
    136. Quem tem teu [...]?
    137. Na Babilônia que nomeaste,
    138. Faça nosso local de descanso para sempre.
    139. [...] deixe que tragamos oferendas regularmente.
    140. [...]
    141. Qualquer um [...] nossas tarefas que nós [...]
    142. Aí [...] é labuta [...]
    143. [...]"
    144. Eles regozijaram [...]
    145. Os deuses [...]
    146. Ele que sabe [...]
    147. Ele abriu sua boca e mostrou-lhes a luz.
    148. [...] seu discurso [...]
    149. Ele fez grandioso [...]
    150. E[...]
    151. Os deuses curvaram-se e falaram com ele,
    152. Eles se dirigiram a Lugaldimmerankia, seu senhor:
    153. Antes, senhor, tu eras nosso amado filho.
    154. Agora é nosso rei [...]
    155. Ele que [...] manteve-nos vivos.
    156. [...] a aura da clava e do cetro.
    157. Que ele faça seus planos [...]
    158. [...] e nós [...]
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    domingo, 6 de setembro de 2015

    Enuma Elish - Tábua IV

    Tábua III <<< Tábua IV >>> Tábua V
    1.  Eles prepararam um lugar suntuoso.
    2. Onde Marduk  se sentou diante de seus ancestrais para receber a coroação.
    3. Eles disseram: "Tu és o mais honrado entre os deuses,
    4. Teu destino será inigualável, teu comando equivale ao de Anu.
    5. Marduk, és o mais honrado entre os deuses,
    6. Teu destino será inigualável, teu comando equivale ao de Anu.
    7. De agora em diante tua ordem será obedecida. 
    8. O poder de exaltar e de rebaixar é teu.
    9. Tuas palavras são a segurança, ninguém pode rebelar-se contra teu comando.
    10. Nenhum dos deuses transgredirá os limites que estabeleceres.
    11. Os templos de todos os deuses serão teus.
    12. Que encontres morada onde seus santuários estão.
    13. Tu és Marduk, nosso Vingador.
    14. Nós o demos o poder sobre todo o Universo. 
    15. Tome teu lugar na assembleia e que tuas palavras sejam exaltadas.
    16. Que teu tiro nunca erre o alvo e que destrua teus inimigos.
    17. Bel-Marduk, poupa aquele que em ti confiar.
    18. E destrói aquele cujos pensamentos são maléficos."
    19. Eles fizeram uma constelação no céu,
    20. E a falaram a Marduk, seu descendente: 
    21. "Teu destino, Bel, é superior ao de todos os outros deuses,
    22. Teu comando trará aniquilação e criação.
    23. Que esta constelação desapareça com uma palavra tua.
    24. Com uma segunda palavra tu a farás reaparecer."
    25. Ele deu o comando e a constelação desapareceu.
    26. Com um segundo comando a constelação voltou à existência.
    27. Quando os deuses, seus ancestrais, viram o efeito de suas palavras,
    28. Eles regozijaram e o felicitaram: "Marduk é o Rei!"
    29. Eles lhe deram-lhe uma maça, um trono e um cetro.
    30. Deram-lhe armas invencíveis para oprimir seus inimigos.
    31. Eles disseram: "Vai e corta a garganta de Tiamat.
    32. E deixa que os ventos carreguem seu sangue e tragam a notícia."
    33. Os deuses ancestrais decretaram o destino de Bel-Marduk.
    34. E colocaram-no na estrada para o sucesso e prosperidade.
    35. Ele fabricou um arco e fez dele sua arma.
    36. Colocou uma flecha no lugar, colocou a corda no arco,
    37. Pegou sua clava e segurou-o em sua mão direita.
    38. Seu arco e alijava ele segurou de lado.
    39. Mandou trovão seguir em sua frente.
    40. E encheu seu corpo com línguas de fogo.
    41. Ele fez uma rede para entrelaçar as entranhas de Tiamat.
    42. Posicionou os quatro ventos de modo que ela não pudesse fugir:
    43. Vento Sul, Vento Norte, Vento Leste e Vento Oeste,
    44. Ele os posicionou com sua rede, os ventos que foram presente de seu pai, Anu.
    45. Ele criou o Vento Maligno, a Tempestade de Areia e a Tormenta,
    46. O Vento das Quatro Ondas, o Vento das Sete Ondas, O Vento Caótico, [...] o Vento.
    47. E mandou os sete ventos que havia inventado.
    48. Eles posicionaram-se ao seu lado para molestar as entranhas de Tiamat.
    49. Bel levantou a Tempestade Diluviana, sua grande arma.
    50. Ele cavalgava uma terrível carruagem feita de tormenta.
    51. Quatro cavalos ele havia prendido à carruagem.
    52. Destruidor, Impiedoso,  Pisoteador e Legião.
    53. Seus lábios abertos, seus dentes venenosos.
    54. Eles não conheciam o cansaço, eram reinados para ir sempre em frente.
    55. Em sua mão direita havia a fúria da batalha.
    56. Em sua mão esquerda havia a violência que oprimia os inimigos.
    57. Ele vestia uma túnica, a terrível capa de medo.
    58. E em sua cabeça ele usava uma aura de terror.
    59. Assim, Bel seguiu seu caminho. 
    60. Ele ficou cara a cara com a furiosa Tiamat.
    61. Ele preparou seu encantamento.
    62. Ele segurou em sua mão uma planta que combateria o veneno.
    63. E, então, os deuses de Tiamat posicionaram-se ao seu redor.
    64. Os deuses, seus irmãos posicionaram-se ao seu redor.
    65. Bel aproximou-se, seus olhos fixos na barriga de Tiamat.
    66. Ele observou os movimentos de Kingu, seu esposo.
    67. E enquanto olhava sua coragem diminuiu.
    68. Sua determinação vacilou.
    69. Seus ajudantes divinos, que marchavam a seu lado,
    70. Viram o guerreiro, seu comandante, e sua visão ficou escura.
    71. Tiamat proferiu o feitiço sem sequer virar a cabeça.
    72. De seus lábios saíram mentiras e falsidades.
    73. "[...]
    74. Em suas [...] eles decidiram por ti."
    75. Bel levantou a Tempestade Diluviana, sua grande arma.
    76. E atirou-a sobre Tiamat gritando as seguintes palavras:
    77. "Porque és tão agressiva e arrogante?
    78. Porque te empenhas em provocar guerra?
    79. Os jovem viviam na anarquia e causavam revolta entre os mais velhos.
    80. Mas tu, sua mãe, só sentia pena e desprezo.
    81. Kingu tu escolheste como esposo,
    82. E nomeou-o inadequadamente para o posto de Anu. 
    83. E para o rei dos deuses, Anshar, tu só criaste problemas.
    84. E o desespero se espalhou entre os deuses, meus ancestrais.
    85. Libera tuas tropas e arma-os com tuas armas.
    86. E nós nos enfrentaremos na batalha."
    87. Quando Tiamat ouviu isso,
    88. Ela ficou insana e perdeu a razão.
    89. Tiamat gritou ferozmente.
    90. E todos os seus membros inferiores tremeram sob ela.
    91. Ela estava recitando um encantamento,
    92. Enquanto os deuses da batalha afiavam suas armas de guerra.
    93. Tiamat e Marduk,faziam o mesmo,
    94. Juntavam suas forças e preparavam a batalha.
    95. Bel jogou sua rede e a embaraçou.
    96. Ele soltou o Vento Maléfico, seu guarda costas, na cara dela.
    97. Tiamat abriu a boca pra engoli-lo,
    98. Ela deixou o Vento Maléfico entrar e não pode fechar os lábios.
    99. E o vento feroz a fez baixar a barriga.
    100. Suas entranhas ficaram alongadas e ela abriu a grande boca.
    101. Ele atirou uma flecha e acertou seu ventre.
    102. Ele cortou uma fissura e rasgou suas entranhas.
    103. Ele a segurou e exterminou sua vida.
    104. Jogou seu corpo no chão e ficou em pé sobre ele.
    105. Depois que havia matado Tiamat, a líder,
    106. Seu exercito se espalhou, seus comandados dividiram-se.
    107. Seus ajudantes divinos, que ficaram ao lado dela,
    108. Tremeram e medo e partiram em retirada.
    109. [...] para salvar suas vidas.
    110. Mas eles foram cercados e foram impedidos de fugir.
    111. Ele os prendeu e quebrou suas armas.
    112. E eles ficaram enredados, caíram na armadilha.
    113. Esconderam-se pelos cantos, cheios de pesar.
    114. Suportaram a punição, cativos em sua prisão.
    115. As onze criaturas que haviam sido revestidas de terror,
    116. A multidão de demônios que iam como noivos ao lado dela.
    117. Ele colocou cordas ao redor deles e prendeu seus braços,
    118. E todo aquele exército ele esmagou debaixo de seus pés.
    119. E Kingu, que havia subido ao poder entre eles,
    120. Ele prendeu e colocou-o junto aos Deuses Mortos.
    121. Tirou dele as Tábuas dos Destinos, que não eram suas por direito.
    122. Lacrou-as com um selo e prendeu sobre o peito.
    123. Depois que o guerreiro Marduk havia prendido e matado seus inimigos,
    124. [...] o arrogante inimigo [...]
    125. Estabeleceu a vitória para Anshar contra seus rivais,
    126. E realizou o desejo de Nudimmud,
    127. Reforçou seu domínio sobre os deuses.
    128. Ele votou-se para Tiamat que estava derrotada.
    129. Bel posicionou seus pés na parte inferior de Tiamat.
    130. E, com sua clava impiedosa, esmagou seu crânio.
    131. Ele arrebentou suas artérias,
    132. E fez com que o Vento Norte carregasse seu sangue, levando as notícias.
    133. Seus ancestrais viram e encheram-se de alegria exultante.
    134. Eles trouxeram-lhe presentes.
    135. Bel descansou contemplando o cadáver.
    136. Ele dividiu o corpo de forma inteligente.
    137. Partiu-a em duas como um peixe seco.
    138. Esticou a pele para formar os céus,
    139. Para vigiar ele nomeou um guardião
    140. Instruído para não deixar que suas águas escapassem.
    141. Ele cruzou os céus observando o domínio celeste.
    142. E o ajustou para coincidir com Abzu, a morada de Nudimmud.
    143. Bel mediu o tamanho de Abzu
    144. E criou E-sara, a Casa do Universo.
    145. E na E-sara que construiu,
    146. Ele fez santuários para Anu, Enlil e Ea morarem.

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    Enuma Elish - Tábua III

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    1. Anshar abriu sua boca,
    2. E falou a Gaga, seu vizir:
    3. "Vizir Gaga, tu alegras meu coração.
    4. Mandarei-te até Lahmu e Lahamu.
    5. Tu és habilidoso em investigações e conheces os lugar onde eles vivem.
    6. Os deuses, meus pais, trouxeram-no a minha presença.
    7. E que todos os deuses sejam trazidos.
    8. Que sentem-se à mesa e façam uma conferência. 
    9. Que comam grãos e tomem cerveja.
    10. E que decretem o destino de Marduk, nosso Vingador."
    11. Então vai, Gaga, vai e encontra-os.
    12. E repete a eles aquilo que te digo:
    13. Anshar, vosso filho, mandou-me.
    14. E aqui estou para narrar-lhes os acontecimentos:
    15. Tiamat, nossa mãe criou grande ódio contra nós.
    16. Ela nomeou um comandante para sua campanha de fúria.
    17. Outros deuses juntaram-se a ela. 
    18. Eles planejaram maldades contra os deuses, seus irmãos.
    19. Eles [...] e ficaram do lado de Tiamat.
    20. Ferozes eram seus planos e eles estavam irrequietos.
    21. Urgiam pela batalha, rugindo e fazendo tempestades.
    22. Faziam provocações para ocasionar conflito.
    23. Mãe Hubur, que deu forma a todas as coisas,
    24. Supriu-os com armas invencíveis e criou serpentes gigantes e monstruosas.
    25. De dentes afiados e presas impiedosas.
    26. Com veneno em vez de sangue ela preencheu seus corpos.
    27. Os furiosos monstros-víboras ela revestiu de terror.
    28. Adornou-os com esplendor divino, deu-lhes imensa estatura.
    29. Ela disse: " Que aqueles que os contemplarem pereçam de pavor.
    30. Ide sempre em frente e nunca recuai."
    31. Ela criou a Hidra, o Dragão, o Herói Cabeludo,
    32. O Grande Demônio, O Cão Selvagem e o Homem-Escorpião,
    33. Ferozes demônios, o Homem-Peixe e o Homem-Touro.
    34. Eles portavam armas cruéis e não temiam a luta
    35. Seus comandos eram tremendos, nada podia resistir.
    36. Depois, da mesma forma, ela fez onze monstros.
    37. Dentre os deuses que eram seus filhos, aqueles que a haviam ajudado,
    38. Ela exaltou Kingu e o glorificou em meio aos outros.
    39. Para marchar na frente dos exércitos, para liderar as tropas.
    40. Para portar as armas, realizar campanhas, mobilizar o conflito.
    41. O comandante da batalha, Chefe Supremo.
    42. Nele ela depositou grande confiança e colocou-o num trono. Ela disse:
    43. "Eu proferi teu encantamento e o promovi a comandante dos deuses.
    44. O domínio sobre todos os deuses a ti eu confiei.
    45. Que sejas exaltado, meu esposo, e serás famoso.
    46. Que teu comando seja supremo entre os Anunnaki."
    47. Ela deu a ele as Tábuas do Destino. Em seus seios ela os segurou dizendo:
    48. "Teu comando nunca será desrespeitado e a palavra de tua boca será obedecida."
    49. Depois que Kingu havia sido exaltado e recebido o poder de Anu,
    50. Ele decretou o Destino dos deuses e seus filhos dizendo:
    51. "Que o comando de vossa boca derrote o Deus-Fogo!
    52. Que vosso veneno e vosso poder terminem com os conflitos."
    53. Eu mandei Anu, mas ele não conseguiu enfrentá-la.
    54. E Nundimud teve medo e retirou-se.
    55. Marduk, o sábio dos deuses, teu filho, ofereceu-se.
    56. Ele está determinado a enfrentar Tiamat.
    57. Ele falou-me as seguintes palavras:
    58. Se hei de tornar-me vosso vingador,
    59. Se dei de derrotar Tiamat salvar-vos,
    60. Convoca a assembleia e declara para mim um destino exaltado.
    61. Sentai-vos todos alegremente em Upshukkinaku,
    62. E deixai que eu, com minhas palavras, decrete os destinos em vosso lugar.
    63. E o que quer que eu diga não poderá ser mudado.
    64. Nem meu comando poderá ser desobedecido ou alterado."
    65. Então decretai seu destino sem demora.
    66. Para que ele possa ir e enfrentar nossa poderosa inimiga."
    67. Gaga, então, partiu dali.
    68. Foi ao encontro de Lahmu e Lahamu, seus pais.
    69. Ele ajoelhou-se, beijou o chão sob seus pés.
    70. E levantou-se dizendo a eles:
    71. Anshar, vosso filho, mandou-me.
    72. E aqui estou para narrar-lhes os acontecimentos:
    73. Tiamat, nossa mãe criou grande ódio contra nós.
    74. Ela nomeou um comandante para sua campanha de fúria.
    75. Outros deuses juntaram-se a ela. 
    76. Eles planejaram maldades contra os deuses, seus irmãos.
    77. Eles [...] e ficaram do lado de Tiamat.
    78. Ferozes eram seus planos e eles estavam irrequietos.
    79. Urgiam pela batalha, rugindo e fazendo tempestades.
    80. Faziam provocações para ocasionar conflito.
    81. Mãe Hubur, que deu forma a todas as coisas,
    82. Supriu-os com armas invencíveis e criou serpentes gigantes e monstruosas.
    83. De dentes afiados e presas impiedosas.
    84. Com veneno em vez de sangue ela preencheu seus corpos.
    85. Os furiosos monstros-víboras ela revestiu de terror.
    86. Adornou-os com esplendor divino, deu-lhes imensa estatura.
    87. Ela disse: " Que aqueles que os contemplarem pereçam de pavor.
    88. Ide sempre em frente e nunca recuai."
    89. Ela criou a Hidra, o Dragão, o Herói Cabeludo,
    90. O Grande Demônio, O Cão Selvagem e o Homem-Escorpião,
    91. Ferozes demônios, o Homem-Peixe e o Homem-Touro.
    92. Eles portavam armas cruéis e não temiam a luta
    93. Seus comandos eram tremendos, nada podia resistir.
    94. Depois, da mesma forma, ela fez onze monstros.
    95. Dentre os deuses que eram seus filhos, aqueles que a haviam ajudado,
    96. Ela exaltou Kingu e o glorificou em meio aos outros.
    97. Para marchar na frente dos exércitos, para liderar as tropas.
    98. Para portar as armas, realizar campanhas, mobilizar o conflito.
    99. O comandante da batalha, Chefe Supremo.
    100. Nele ela depositou grande confiança e colocou-o num trono. Ela disse:
    101. "Eu proferi teu encantamento e o promovi a comandante dos deuses.
    102. O domínio sobre todos os deuses a ti eu confiei.
    103. Que sejas exaltado, meu esposo, e serás famoso.
    104. Que teu comando seja supremo entre os Anunnaki."
    105. Ela deu a ele as Tábuas do Destino. Em seus seios ela os segurou dizendo:
    106. "Teu comando nunca será desrespeitado e a palavra de tua boca será obedecida."
    107. Depois que Kingu havia sido exaltado e recebido o poder de Anu,
    108. Ele decretou o Destino dos deuses e seus filhos dizendo:
    109. "Que o comando de vossa boca derrote o Deus-Fogo!
    110. Que vosso veneno e vosso poder terminem com os conflitos."
    111. Eu mandei Anu, mas ele não conseguiu enfrentá-la.
    112. E Nundimud teve medo e retirou-se.
    113. Marduk, o sábio dos deuses, teu descendente, ofereceu-se.
    114. Ele está determinado a enfrentar Tiamat.
    115. Ele falou-me as seguintes palavras:
    116. Se hei de tornar-me vosso vingador,
    117. Se dei de derrotar Tiamat salvar-vos,
    118. Convoca a assembleia e declara para mim um destino exaltado.
    119. Sentai-vos todos alegremente em Upshukkinaku,
    120. E deixai que eu, com minhas palavras, decrete os destinos em vosso lugar.
    121. E o que quer que eu diga não poderá ser mudado.
    122. Nem meu comando poderá ser desobedecido ou alterado."
    123. Então decrete seu destino sem demora.
    124. Para que ele possa ir e enfrentar nossa poderosa inimiga."
    125.  Quando ouviram isso, Lahmu e Lahamu gritaram.
    126. Todos os Igigi murmuraram perturbados.
    127. "O que aconteceu para que ela fizesse todas essas coisas contra nós?
    128. Nós não sabíamos o que Tiamat estava tramando."
    129. Todos os grandes deuses que decretam os destinos,
    130. Reuniram-se preocupados.
    131. Eles foram até Anhsar para fazer a reunião.
    132. Eles se beijaram enquanto [...] na assembleia.
    133. Eles se sentaram e fizeram a conferência.
    134. Comeram grãos e beberam cerveja.
    135. Eles sugaram doces bebidas por seus canudos.
    136. E, à medida que tomavam cerveja, foram sentindo-se relaxados.
    137. Ficaram despreocupados e seus humores ficaram alegres.
    138. E eles decretaram o destino de Marduk, seu Vingador.
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    sábado, 5 de setembro de 2015

    Enuma Elish - Tábua II

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    1.  Tiamat reuniu todas as suas criaturas.
    2. E preparou-se para a guerra contra os deuses, seus filhos.
    3. Naquele momento Tiamat engendrava maldades para vingar Abzu.
    4. E veio ao conhecimento de Ea que ela estava se organizando.
    5. Ele informou-se sobre os detalhes da situação.
    6. Ea recolheu-se em seus aposentos e sentou-se imóvel.
    7. Após refletir sua fúria apaziguou-se.
    8. Ele foi encontrar seu ancestral, Anshar.
    9. Ea entrou na presença do pai de seu progenitor, Anshar.
    10. E contou a ele sobre os atos de Tiamat.
    11. "Anshar, Tiamat, nossa mãe criou grande ódio contra nós.
    12. Ela nomeou um comandante para sua campanha de fúria.
    13. Outros deuses juntaram-se a ela. 
    14. Eles planejaram maldades contra os deuses, seus irmãos.
    15. Eles [...] e ficaram do lado de Tiamat.
    16. Ferozes eram seus planos e eles estavam irrequietos.
    17. Urgiam pela batalha, rugindo e fazendo tempestades.
    18. Faziam provocações para ocasionar conflito.
    19. Mãe Hubur, que deu forma a todas as coisas,
    20. Supriu-os com armas invencíveis e criou serpentes gigantes e monstruosas.
    21. De dentes afiados e presas impiedosas.
    22. Com veneno em vez de sangue ela preencheu seus corpos.
    23. Os furiosos monstros-víboras ela revestiu de terror.
    24. Adornou-os com esplendor divino, deu-lhes imensa estatura.
    25. Ela disse: " Que aqueles que os contemplarem pereçam de pavor.
    26. Ide sempre em frente e nunca recuai."
    27. Ela criou a Hidra, o Dragão, o Herói Cabeludo,
    28. O Grande Demônio, O Cão Selvagem e o Homem-Escorpião,
    29. Ferozes demônios, o Homem-Peixe e o Homem-Touro.
    30. Eles portavam armas cruéis e não temiam a luta
    31. Seus comandos eram tremendos, nada podia resistir.
    32. Depois, da mesma forma, ela fez onze monstros.
    33. Dentre os deuses que eram seus filhos, aqueles que a haviam ajudado,
    34. Ela exaltou Kingu e o glorificou em meio aos outros.
    35. Para marchar na frente dos exércitos, para liderar as tropas.
    36. Para portar as armas, realizar campanhas, mobilizar o conflito.
    37. O comandante da batalha, Chefe Supremo.
    38. Nele ela depositou grande confiança e colocou-o num trono. Ela disse:
    39. "Eu proferi teu encantamento e o promovi a comandante dos deuses.
    40. O domínio sobre todos os deuses a ti eu confiei.
    41. Que sejas exaltado, meu esposo, e serás famoso.
    42. Que teu comando seja supremo entre os Anunnaki."
    43. Ela deu a ele as Tábuas do Destino. Em seus seios ela os segurou dizendo:
    44. "Teu comando nunca será desrespeitado e a palavra de tua boca será obedecida."
    45. Depois que Kingu havia sido exaltado e recebido o poder de Anu,
    46. Ele decretou o Destino dos deuses e seus filhos dizendo:
    47. "Que o comando de vossa boca derrote o Deus-Fogo!
    48. Que vosso veneno e vosso poder terminem com os conflitos."
    49. Anshar ouviu tudo isso e ficou profundamente perturbado. 
    50. Ele gritou e mordeu o lábio.
    51. Havia fúria em seu coração e sua mente não encontrava calma.
    52. Ele gritou para Ea e seu grito foi vacilante:
    53. "Meu filho, tu provocaste a guerra.
    54. Assume responsabilidade por tudo o que fizeste.
    55. Tu mataste Abzu.
    56. E Tiamat, a quem fizeste furiosa, não possui rival à altura."
    57. E, o Príncipe Sábio,
    58. O senhor da Sabedoria, o deus Ea-Nudimund,
    59. Com palavras de alento e tranquilidade na voz,
    60. Gentilmente respondeu a Anshar:
    61. "Oh, pai, mente profunda que decreta os destinos,
    62. Que tem o poder de criar e o poder de destruir.
    63. Anshar, mente profunda que decreta os destinos,
    64. Que tem o poder de fazer e o poder de desfazer,
    65. Quero dizer-te algo, por favor, acalma-te por um momento,
    66. E saiba que meus atos foram para o bem.
    67. Antes que Abzu fosse morto,
    68. Ninguém poderia prever a atual situação.
    69. E antes que eu desse fim a ele,
    70. Lembras qual era a situação que me obrigou a matá-lo?"
    71. Anshar ouviu as palavras e elas o agradaram.
    72. Seu coração relaxou e ele falou a Ea:
    73. "Meu filho, teus atos são dignos de um deus.
    74. És capaz de um golpe feroz e inigualável [...]
    75. Ea, teus atos são dignos de um deus.
    76. És capaz de um golpe feroz e inigualável [...]
    77. Vá até Tiamat e amorteça seu ataque.
    78. [...] sua fúria com teus encantamentos."
    79. Ele ouviu as palavras de Anshar, seu ancestral,
    80. E tomou seu caminho em direção a ela. 
    81. Ele foi e enganou todas as armadilhas de Tiamat.
    82. Ele parou perto dela, ficou em silêncio, e recuou.
    83. Ea retornou à presença do senhor Anshar.
    84. E humildemente falou a ele:
    85. "Meu pai, o poder de Tiamat é demais para mim.
    86. Eu percebi o que ela planejava e meu encantamento não é páreo para ela.
    87. Sua força é poderosa e ela está revestida de terror.
    88. Ela é realmente muito forte, ninguém pode enfrentá-la.
    89. Seu grito de guerra ainda é potente.
    90. Eu tive medo daquele grito e recuei.
    91. Meu pai, não percas as esperanças, manda outra pessoa contra ela.
    92. Embora a força de uma mulher possa ser grande, não pode igualar à de um homem.
    93. Desmantele suas cortes, destrua seus planos.
    94. Antes que ela venha nos pegar."
    95. Anshar gritou com imensa fúria.
    96. E chamou Anu, seu filho:
    97. "Honrado filho, herói, guerreiro,
    98. De força poderosa e ataque irresistível.
    99. Apressa-te e enfrenta Tiamat.
    100. Apazigua sua fúria e que seu coração possa relaxar.
    101. Se ela não der ouvidos a tuas palavras,
    102. Diz palavras de súplica e que seu coração seja acalmado."
    103. Ele ouviu as palavras de Anshar, seu pai progenitor.
    104. E tomou seu caminho em direção a ela. 
    105. Anu foi e enganou todas as armadilhas de Tiamat.
    106. Ele parou perto dela, ficou em silêncio, e recuou.
    107. Ele retornou à presença do senhor Anshar.
    108. E humildemente falou a ele:
    109. "Meu pai, o poder de Tiamat é demais para mim.
    110. Eu percebi o que ela planejava e meu encantamento não é páreo para ela.
    111. Sua força é poderosa e ela está revestida de terror.
    112. Ela é realmente muito forte, ninguém pode enfrentá-la.
    113. Seu grito de guerra ainda é potente.
    114. Eu tive medo daquele grito e recuei.
    115. Meu pai, não percas as esperanças, manda outra pessoa contra ela.
    116. Embora a força de uma mulher possa ser grande, não pode igualar à de um homem.
    117. Desmantele suas cortes, destrua seus planos.
    118. Antes que ela venha nos pegar."
    119. Anshar caiu em silêncio com o rosto no chão. 
    120. Ele acenou para Ea balançando a cabeça.
    121. Os Igigi e todos os Anunnaki fizeram uma assembleia.
    122. Eles sentaram-se num silêncio mortal.
    123. Nenhum deus iria enfrentar [...]
    124. Iria contra Tiamat [...]
    125. E Anshar, o pai dos deuses,
    126. Estava furioso em seu coração e não convocou mais ninguém.
    127. Um poderoso filho, o vingador de seu pai,
    128. Aquele que se adianta para a guerra, o guerreiro Marduk,
    129. Ea o chamou em seus aposentos particulares,
    130. Para falar-lhe sobre seus planos.
    131. "Marduk, escuta teu pai,
    132. És meu filho, e alegras meu espírito
    133. Vai e faz reverência diante de Anshar.
    134. Fala com ele, impõe-te, acalma-o com teu olhar."
    135. Bel alegrou-se com as palavras de seu pai.
    136. Ele aproximou-se e ficou na presença de Anshar.
    137. Anshar o viu e seu coração encheu-se de alegria.
    138. Ele beijou-lhe os lábios e removeu seu medo.
    139. "Meu pai, não te preocupes,
    140. Eu irei e cumprirei teus desejos.
    141. Anshar, não te preocupas,
    142. Eu irei e cumprirei teus desejos.
    143. Nenhum homem jamais deu ordens de batalha contra ti.
    144. E será Tiamat, uma mulher, que pegará em armas contra ti?
    145. Meu pai, progenitor, regozija-te e alegra-te.
    146. Logo pisarás sobre o pescoço de Tiamat.
    147. Anshar, progenitor, regozija-te e alegra-te.
    148. Logo pisarás sobre o pescoço de Tiamat."
    149. "Vai, meu filho, portador de todo conhecimento,
    150. Apazigua Tiamat com teu encantamento poderoso. 
    151. Dirige a carruagem tempestuosa agora mesmo.
    152. E derruba-a com um [...] que não pode ser repelido."
    153. Bel regozijou-se com as palavras de seu pai.
    154. Com alegria no coração ele falou a seu pai:
    155. "Senhor dos deuses, Destino dos deuses,
    156. Se hei de tornar-me vosso vingador,
    157. Se dei de derrotar Tiamat salvar-vos,
    158. Convoca a assembleia e declara para mim um destino exaltado.
    159. Sentai-vos todos alegremente em Upshukkinaku,
    160. E deixai que eu, com minhas palavras, decrete os destinos em vosso lugar.
    161. E o que quer que eu diga não poderá ser mudado.
    162. Nem meu comando poderá ser desobedecido ou alterado."

    Tábua I<<Tábua II>> Tábua III

    quinta-feira, 3 de setembro de 2015

    Ennuma Elish - Tábua I

     Tábua I >> Tábua II
    1. Quando nas alturas os céus ainda não tinham nome,
    2. E a terra abaixo não havia ainda sido nomeada,
    3. Havia o Abismo Primordial de Abzu,
    4. E havia o caos de Tiamat, a mãe de todos.
    5. E suas águas se misturaram.
    6. Mas nem campos nem pântanos haviam sido criados.
    7. Dos deuses nenhum havia sido chamado à existência.
    8. Ninguém tinha nome e nenhum destino havia sido decretado.
    9. Então, nos domínios celestes, os deuses foram criados.
    10.  Lahmu e Lahamu se formaram e foram chamados à existência.
    11. O tempo passou e eles cresceram adquirindo grande estatura.
    12. Anshar e Kishar, mais magníficos que seus pais, foram criados.
    13. As eras se estenderam.
    14. Anu, o filho deles, fazia frente a seus pais.
    15. Anu era igual a Anshar.
    16. E ele gerou Ea-Nudimmud, seu semelhante.
    17. Nudimmud, era o maior que seus ancestrais.
    18. Transbordante era sua sabedoria e enorme era sua força.
    19. Era muito mais forte que o pai de seu pai, Anshar.
    20. Ele não tinha rivais entre os deuses, seus irmãos.
    21. E os divinos irmãos se uniram.
    22. Seu clamor era poderoso e eles perturbavam Tiamat.
    23. Os nervos de Tiamat estavam abalados.
    24. Com suas danças eles causaram distúrbios em Anduruna.
    25. Abzu nada fez para diminuir a agitação.
    26. E Tiamat os confrontava silenciosamente,
    27. Embora a conduta de seus filhos a perturbasse.
    28. Mas, embora eles a incomodassem, ela queria poupá-los.
    29. Então, Abzu, o progenitor de todos os deuses,
    30. Chamou Mummu, seu vizir, e disse a ele:
    31. "Oh Mummu, vizir que alegra meu espírito.
    32. "Vem comigo até Tiamat. Vamos!"
    33. Então eles foram e sentaram-se diante de Tiamat,
    34. E conversaram para decidir o que fazer com os deuses, seus filhos.
    35. Abzu abriu a boca para falar.
    36. E para dentro de Tiamat, a Reluzente, ele enviou as palavras:
    37. "O comportamento deles tornou-se desagradável para mim,
    38. "Durante o dia eu não tenho descanso e a noite não posso dormir em paz.
    39. "Devo destruir e acabar com essas atitudes impensadas.
    40. "Deixe que lamentem e que o silêncio reine, para que possamos ter paz ."
    41. Quanto Tiamat ouviu essas palavras,
    42. Ela enfureceu-se e gritou alto para seu esposo,
    43. Chorou magoada e  começou a fumegar.
    44. Ela entristeceu-se com as intenções malignas que lhe haviam sido reveladas:
    45. "Como podemos destruir aquilo que criamos?
    46. Apenas conformemo-nos com a dificuldade e poderemos dormir em paz."
    47. Mummu respondeu e aconselhou Abzu,
    48. E hostil foi o conselho que Mummu deu contra os deuses: 
    49. "Vem, meu pai. Eles vivem na anarquia e tu deverás acabar com isso.
    50. Só assim terás descanso durante o dia e à noite poderás dormir em paz."
    51. Abzu ouviu cuidadosamente e seu rosto estava satisfeito,
    52. Pois Mummu havia planejado coisas más para os deuses, seus filhos.
    53. Mummu pôs os braços ao redor do pescoço de Apsu,
    54. Sentou-se nos seus joelhos e o beijou.
    55. E os planos que eles fizeram,
    56. Foram reportados a seus filhos, os deuses.
    57. Os deuses ouviram e ficaram frenéticos.
    58. Cheios de lamentação, eles se sentaram melancólicos.
    59. Ea, que entre todos era o mais habilidoso e sábio.
    60. Ea, aquele que conhece tudo, tomou conhecimento da traição.
    61. Ele criou um plano que resolveria tudo.
    62. Ele executou-o habilmente para que fosse eficaz - criou um encantamento poderoso.
    63. Ea recitou-o e enviou-o nas águas.
    64. Ele pulverizou sono sobre Abzu e o fez dormir profundamente.
    65. Colocou Abzu para dormir enquanto espalhava o sono.
    66. Mummu, o conselheiro perdeu a respiração quando viu aquilo.
    67. Ea rompeu os tendões de Abzu e arrancou sua coroa.
    68. Retirou sua aura e a colocou sobre si.
    69. Ele prendeu Abzu e o matou.
    70. Confinou Mummu e o acorrentou firmemente.
    71. Ele fez sua casa no corpo de Abzu.
    72. E manteve as correntes de Mummu firmes em sua mão.
    73. Depois que Ea havia aprisionado e matado seus inimigos,
    74. E alcançado vitória contra seus rivais,
    75. Ele descansou calmamente em sua casa,
    76. A qual ele deu o nome de Abzu onde vários templos ele construiu.
    77. Criou várias câmaras dentro dele.
    78. Ea e Damkina, sua esposa, repousaram no esplendor.
    79. E na Câmara dos Destinos, o Salão dos Arquétipos,
    80. Bel-Marduk, o mais sábio dos sábios foi concebido.
    81. Foi em Abzu que Marduk nasceu.
    82. No puro Abzu, Marduk nasceu.
    83. Ea, seu pai, foi quem o gerou.
    84. Damkina, sua mãe, foi quem o concebeu.
    85. Ele sugou os seios da deusa.
    86. Ela o amamentou e o tornou terrível.
    87. Sua figura desenvolveu-se, o olhar em seus olhos era fulgurante.
    88. Ele cresceu em virilidade, era poderoso desde o começo.
    89. Anu, o progenitor de seu pai o viu.
    90. Ele contentou-se e sorriu, seu coração estava cheio de alegria.
    91. Anu reconheceu sua perfeição: sua divindade era admirável.
    92. E ele tornou-se sublime excedendo todos os outros em seus atributos.
    93. Seus membros eram incompreensivelmente maravilhosos.
    94. Era impossível compreender sua existência com a mente, era difícil até de se olhar.
    95. Quatro olhos e quatro orelhas ele tinha.
    96. Chamas avançavam quando ele movia seus lábios.
    97. Suas orelhas cresceram.
    98. E seus olhos podiam ver tudo.
    99. Sua figura era suntuosa e superior quando comparada à dos outros deuses.
    100. Seus membros eram poderosos e sua natureza era superior.
    101. 'Marduk, Marduk,
    102. O Filho, O Deus-Sol, o deus dos deuses.' 
    103. Ele era revestido com a aura de dez deuses, tamanho era seu poder.
    104. Todos os horrores repousavam nele.
    105. Anu forjou e fez nasceram os quatro ventos,
    106. E os entregou a ele: "Meu filho, faça deles o seu turbilhão."
    107. Ele criou poeira e mandou o furacão para controlá-la.
    108. Ele criou uma onda para trazer desolação a Tiamat.
    109. Tiamat estava desorientada. Dia e noite ela se afligia.
    110. Os deuses não pararam para descansar, eles [...]
    111. Em suas mentes eles planejavam maldades.
    112. Mandaram uma mensagem a Tiamat, a Mãe:
    113. "Quando Abzu, teu esposo, foi morto,
    114. Tu não foste junto a ele, mas sentou-se em silêncio.
    115. Agora os quatro ventos terríveis foram criados para causar-lhe desolação.
    116.  Nós não descansaremos.
    117. Tu não choraste por Abzu, teu esposo,
    118. Nem por Mummu que está aprisionado, e agora estás só.
    119. Daqui em diante viverás em grande consternação.
    120. Não podemos descansar, pois não somos amados por ti.
    121. Entenda nossa dor. Nossos olhos estão vazios.
    122. Que acabe sua soberania para que possamos dormir.
    123. Venha à guerra! Vingue-os!
    124. [...] reduza a nada!"
    125. Tiamat ouviu a provocação e sentiu prazer.
    126. Ela disse: "Faremos demônios assim como aconselhastes."
    127. Outros deuses juntaram-se a ela. 
    128. Eles planejaram maldades contra os deuses, seus irmãos.
    129. Eles [...] e ficaram do lado de Tiamat.
    130. Ferozes eram seus planos e eles estavam irrequietos.
    131. Urgiam pela batalha, rugindo e fazendo tempestades.
    132. Faziam provocações para ocasionar conflito.
    133. Mãe Hubur, que deu forma a todas as coisas,
    134. Supriu-os com armas invencíveis e criou serpentes gigantes e monstruosas.
    135. De dentes afiados e presas impiedosas.
    136. Com veneno em vez de sangue ela preencheu seus corpos.
    137. Os furiosos monstros-víboras ela revestiu de terror.
    138. Adornou-os com esplendor divino, deu-lhes imensa estatura.
    139. Ela disse: " Que aqueles que os contemplarem pereçam de pavor.
    140. Ide sempre em frente e nunca recuai."
    141. Ela criou a Hidra, o Dragão, o Herói Cabeludo,
    142. O Grande Demônio, O Cão Selvagem e o Homem-Escorpião,
    143. Ferozes demônios, o Homem-Peixe e o Homem-Touro.
    144. Eles portavam armas cruéis e não temiam a luta
    145. Seus comandos eram tremendos, nada podia resistir.
    146. Depois, da mesma forma, ela fez onze monstros.
    147. Dentre os deuses que eram seus filhos, aqueles que a haviam ajudado,
    148. Ela exaltou Kingu e o glorificou em meio aos outros.
    149. Para marchar na frente dos exércitos, para liderar as tropas.
    150. Para portar as armas, realizar campanhas, mobilizar o conflito.
    151. O comandante da batalha, Chefe Supremo.
    152. Nele ela depositou grande confiança e colocou-o num trono. Ela disse:
    153. "Eu proferi teu encantamento e o promovi a comandante dos deuses.
    154. O domínio sobre todos os deuses a ti eu confiei.
    155. Que sejas exaltado, meu esposo, e serás famoso.
    156. Que teu comando seja supremo entre os Anunnaki."
    157. Ela deu a ele as Tábuas do Destino. Em seus seios ela os segurou dizendo:
    158. "Teu comando nunca será desrespeitado e a palavra de tua boca será obedecida."
    159. Depois que Kingu havia sido exaltado e recebido o poder de Anu,
    160. Ele decretou o Destino dos deuses e seus filhos dizendo:
    161. "Que o comando de vossa boca derrote o Deus-Fogo!
    162. Que vosso veneno e vosso poder terminem com os conflitos."

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    quarta-feira, 2 de setembro de 2015

    A Contenda de Hórus e Set (Papiro Chester Beatty )


    A história mitológica da disputa entre Hórus e Set pelo trono do Egito pode ser encontrada no Papiro Chester Beatty. Este é uma coleção de textos antigos encontrados por Chester Beatty. Ele data da vigésima dinastia do Egito e contêm também vários textos bíblicos.
        A parte referente a Hórus e Set conta a história do que aconteceu após a morte e ressurreição de Osíris quando Set era o Governante. Hórus havia atingido idade de reivindicar o trono do pai e os dois compareceram ao tribunal dos deuses para defender suas causas.
      

    Tradução para o português da parte 1 do Papiro de Chester Beatty:

      
    Houve uma época em que ocorreram várias disputas entre Hórus e Set, misteriosos em suas formas, os mais poderosos entre os príncipes que já vieram a existir.
    O jovem deus (Hórus) estava sentado na presença do Senhor Universal (Atum), clamando para si o encargo de seu pai Osíris, o Belo, filho de Ptah, aquele que ilumina o oeste com sua presença. Thot apresentou seu Olho Imaculado ao Grande Senhor que está em Heliópolis.
    Então, Shu, filho de Rá, disse na presença de Atum, o grande Príncipe:
    "A  Justiça possui poder. Consagra-a: Dê o encargo a Hórus."
    E Thot concordou dizendo: 
    "Isto está um milhão de vezes correto."
    Então, Ísis soltou um grito de alegria incontida. Ela veio perante o Senhor Universal e disse:
    "Vento do Norte, vá para o leste. Leve as boas notícias a Osíris".
    E Shu, filho de Rá, falou:
    "Aquele que apresenta o Olho Imaculado é fiel à Enéade.
    E o Senhor Universal falou:
    "Como ousais tomar decisores por conta própria? Dizei- me."
    Onúris disse:
    "O jovem deve assumir o cartucho de Hórus e a Coroa Branca deve ser colocada sobre sua cabeça."
    O Senhor Universal ficou em silêncio por um longo tempo em quieta fúria contra a Enéade. Então, Set, o filho de Nut, falou a Atum:
    "Eu e ele deveremos competir e, em tua presença, eu provarei minha superioridade. Esta é a única maneira pela qual poderemos decidir quem será o Governante."
    Thot disse:
    "Não há necessidade de disputa, pois é fácil saber qual dos dois é o rei de direito e qual é o usurpador. Não devemos outorgar a Set o encargo de Osíris enquanto Hórus, o filho de Osíris, ainda vive."
    Atum-Rá-Horakhty ficou extremamente furioso, pois seu desejo era dar o encargo a Set, o viril filho de Nut.
    Onuris soltou um alto grito perante a Enéade e disse:
    "O que devemos fazer?"
    Então, Atum, o grande Príncipe de Heliópolis disse:
    "O grande deus Banebdjedet deverá ser o juiz que decidirá entre os jovens."
    Banebdjedet, o grande deus que reside em Sehel foi trazido junto a Ptah-Tatenen diante de Atum e ele lhes falou:
    "Decidi vós qual dos dois jovens está certo. Que eles parem com as violências."
    Então, Banebdjedet, o grande deus respondeu:
    "Nós não exerceremos nossa autoridade na ignorância. Enviaremos uma mensagem a Neith, a Grande, a Mãe de Deus. Ela deverá nos aconselhar sobre como devemos agir."
    Então, a Enéade disse a Thot na presença do Senhor Universal:
    "Escreve uma mensagem para Neith em nome do Senhor Universal, o Touro de Heliópolis."
    Thot disse três vezes:
    "Assim será feito. Assim será feito. Assim será feito." 
    Então ele se sentou e começou a escrever a carta:
    "O Rei, Atum-Rá-Horakhty, idolatrado por Thot, Senhor das Duas Terras, o Heliopolitano, o Disco Solar que ilumina as Duas Terras com sua cor, o poderoso, manifestação viva do Senhor Universal, o Touro de Heliópolis, escrevem a Neith, a Grande, Mãe de Deus, aquela que iluminou a primeira face, aquela que vive com saúde e juventude. Seu humilde servo, em nome de Osíris pergunta: O que devemos fazer por esses dois indivíduos que vêm ao tribunal e que por ninguém podem ser julgados? Por favor, diga-nos o que devemos fazer."
    Então, Neith, a Grande, Mãe de Deus, mandou uma mensagem à Enéade dizendo:
    "Que o encargo de Osíris seja passado a seu filho, Hórus. Não cometam injustiças contra ele ou irei enfurecer-me de tal modo que o céu tocará o chão. O Senhor Universal, Touro de Heliópolis, para cumprir seu dever, deve retirar de Set suas posses e riquezas. Dai-lhe Anath e Astarte, suas duas filhas, e colocai Hórus no encargo de seu pai, Osíris."
    A mensagem de Neith, a Grande, Mãe de Deus, chegou à Enéade quando eles estavam sentados na corte de Hórus e foi entregue nas mãos de Thot. Ele a leu na presença do Senhor Universal e da Enéade e eles declararam com unanimidade:
    "Esta deusa está correta".
    Mas o Senhor Universal se enfureceu com Hórus e disse a ele:
    "Tu és desprezível e não serias capaz de suportar este cargo, rapaz."
    Onuris e a Enéade ficaram furiosos com essa declaração. Bebon, o deus, levantou-se e disse a Atum-Rá-Horakthi:
    "Teu santuário está vazio".
    Atum ofendeu-se gravemente e entristeceu. Ele deitou-se de costas no chão. Então a Enéade se retirou e soltou um grande grito de protesto na face Bebon, o deus. Eles disseram-lhe:
    "Vai embora! Esta ofensa que proferiste é muito grave!"
    Eles adentraram em suas cabanas e o grande deus passou a noite deitado de costas muito entristecido e solitário.
    Passado um tempo, Hator, Senhora de Sicômoro, veio e ficou diante de seu pai, o Senhor Universal e expôs sua vagina perante seus olhos. O Grande Deus riu dela. Ele levantou-se do chão convocou a Grande Enéade. Ele ordenou a Hórus e Set:
    "Falem por si mesmos."
    Set, o viril filho de Nut falou:
    "Quanto a mim, eu sou Set, o mais viril entre aqueles da Enéade, pois todos os dias eu luto e derroto o inimigo de Rá na proa de sua Barca dos Milhões de Anos. Nenhum outro deus é capaz de fazê-lo. Eu deveria receber o encargo de Osíris."
    Então eles disseram:
    "Set, filho de Nut está correto."
    Onuris e Thot gritaram em protesto dizendo:
    "Enquanto o filho legítimo ainda está vivo o encargo deve ser passado ao tio?"
    E Banebdjede, o grande deus, disse:
    "Set é mais velho e ainda vivo. O encargo deve ser dado ao jovem rapaz?
    Hórus, filho de Ísis falou:
    "Isso não é bom. Estou sendo atraiçoado na presença da Enéade que me priva do encargo de meu pai, Osíris."
    E Ísis ficou furiosa com a Enéade e falou:
    "Por minha mãe, Neith, a deusa e por Ptah-Tatenen, com suas plumas sublimes, esses assuntos deveriam ser decididos por Atum, o grande príncipe de Heliópolis e de Khepri, que reside em sua barca."
    E a Enéade respondeu a ela:
    "Não tenhas raiva. O direito será dado àquele que for digno. Tudo o que disseste será feito."
    Set enfureceu-se com a Enéade quando essas palavras foram ditas e falou: 
    "Eu não voltarei a este tribunal da Lei enquanto Ísis nele ainda estiver. Se não a expulsardes e minha vontade não for satisfeita eu pegarei meu cetro e matarei um de vocês a cada dia." 
    Atum-Rá-Horakhty então falou:
    "Então devemos mudar o local das reuniões. Vos atravessareis as águas a barco até a Ilha do Meio e decidireis por lá o que precisa ser decidido. Dizei a Nemty, o barqueiro, que não leve nenhuma mulher que sequer pareça-se com Ísis."

    Então, a Enéade, sem Ísis, pegou o barco guiado por Nemty e atravessou as águas até a Ilha do Meio. Lá eles sentaram e comeram  pão.

    Mas Ísis transformou-se numa velha que mancava e usava um pequeno anel sinete dourado na mão. Ela  veio e se aproximou de Nemty, o barqueiro, quando ele estava sentado perto de seu barco. Ela disse a ele: 
    "Eu venho até tu para que me leves em teu barco até a Ilha do Meio, pois eu venho trazendo para o jovem rapaz que lá está uma tigela de mingau. Ele está negociando gado naquela ilha há cinco dias e já está com fome."
    Ele respondeu: 
    "Infelizmente eu tenho ordens de não carregar nenhuma mulher até a Ilha."
    E ela lhe disse: 
    "Eu sei que, na verdade, tu recebeste ordens de não levar Ísis." 
    Ele falou: 
    "O que podes dar-me para que eu leve-te até a Ilha do Meio?" 
    Ísis disse: 
    "Darei-te este bolo." 
    O barqueiro disse: 
    "E para quê eu vou querer um bolo? É em troca de um bolo que eu devo contrariar as ordens que me foram dadas de não levar nenhuma mulher até a Ilha do Meio?"
    E ela lhe disse: "Então darei-te este anel sinete de ouro que está em minha mão." 
    Então ela deu-lhe o anel sinete e ele a levou até a Ilha do Meio.

    Enquanto andava por entre as árvores, Ísis olhou e viu os da Enéade sentados comendo pão na presença do Senhor Universal em seu pavilhão. Set a viu quando ela se aproximou e ela, usando suas habilidades nas artes da magia, transformou-se numa donzela de tal beleza que nunca havia sido vista em toda a terra. Set a desejou com grande lascívia.
    Ele se levantou de onde estava, afastou-se da grande Enéade e aproximou-se para possuí-la, pois ninguém além dele a havia visto. Parou atrás de um Sicômoro  (árvore) e chamou:
    "Estou aqui contigo, linda donzela." 
    E ela respondeu: 
    "Ajuda-me, grande senhor. Sabe que eu era a esposa de um criador de gados com o qual tive um filho. Mas meu esposo morreu e o rapaz começou a cuidar do gado do pai. Então, um estranho veio e estabeleceu-se no meu estábulo. Ele disse ao meu filho que o subjugaria e confiscaria o gado de seu pai e o expulsaria de suas terras. Agora venho pedir-te aconselhamento e proteção."
    E logo Set disse a ela: 
    "Enquanto o filho de um homem ainda está vivo seu gado não deve ser dado a um estranho."
    Assim, Ísis transformou-se numa pipa e voou ficando agarrada no topo de uma Acácia. Ela chamou por Set e disse a ele: 
    "Envergonha-te. Foi de tua própria boca que saíram essas palavras. Foste julgado por tua própria astúcia. Quais argumentos terás agora?" 
    Ele envergonhou-se e foi até onde estava Atum-Rá-Horakhty que lhe perguntou:
    "O que te incomoda?"
    Set respondeu:
    "Aquela mulher perversa veio até mim novamente. Ela enganou-me ao transformar-se numa linda donzela diante de meus olhos. Ela me disse: 'Saibe que eu era a esposa de um criador de gados com o qual tive um filho. Ele morreu e o rapaz passou cuidar do gado do pai. Um estranho abrigou-se no meu estábulo e eu o alimentei. Depois de alguns dias o estranho falou com meu filho: 'Eu o derrotarei e confiscarei o gado de teu pai e ele será meu.' Foi isso que ela me contou."
    E Atum-Rá-Horakhty perguntou: 
    "E o que respondeste?" 
    E Set falou: 
    "Eu disse que enquanto o filho de um homem ainda está vivo o gado não deve ser dado a um estranho. E eu falei que a face deste invasor deveria ser golpeada com uma vara, ele deveria ser expulso. O filho deveria colocado no encargo do pai."
     Então Atum-Rá-Horakhty disse a ele: 
    "Veja bem, tu acabaste por julgar a ti mesmo. Quais argumentos poderás apresentar agora?" 
    E Set falou: 
    "Nemty, o barqueiro, deve ser trazido e severamente castigado. Devemos perguntar-lhe: 'Porque a trouxeste até aqui?"
    Então, Nemty, o barqueiro, foi trazido perante a Enéade e as partes da frente de seus pés foram decepadas. Ele abdicou à posse do outro para sempre na presença da Grande Enéade dizendo: 
    "Por minha causa o ouro deve tornar-se uma abominação em minha cidade." 
    Então a Enéade foi de barco até a margem oeste e se sentaram na montanha.

     À tarde Atum, o Heliopolitano falou Enéade:
     "O que fazem sentados aí? Os dois jovens passarão a vida inteira no tribunal? Quando minha mensagem chegar colocai a Coroa Branca na cabeça de Hórus, filho de Ísis, e conduzi-lo ao encargo de seu pai, Osíris."
    Com isso Set ficou terrivelmente furioso. A Enéade disse a ele: 
    "Por que ficaste tão furioso? Pensas que as coisas não deveriam ser feitas do modo como Atum, o Heliopolitano ordena?" 
    Então a Coroa Branca foi colocada na cabeça e Hórus, filho de Ísis. 
    Set, ainda mais furioso, gritou na cara da Enéade dizendo: 
    "Mesmo eu, o irmão mais velho, estando vivo, ainda assim o encargo deve ser dado ao mais jovem? A Coroa Branca deve ser removida da cabeça de Hórus, filho de Ísis, e ele deve ser jogado na água para que nós possamos competir pelo encargo do Rei."
    E Atum concordou.
    Então set falou com Hórus: 
    "Vem, transformemo-nos em hipopótamos para submergir nas águas profundas no meio do mar. Aquele que não conseguir sobreviver debaixo d'água por três meses inteiros será o perdedor e o encargo não será dado a ele."
    Então os dois mergulharam.
    Ísis sentou-se e chorou dizendo: 
    "Set matará meu filho."
    Então ela trouxe um novelo de fios e amarrou uma pena de cobre fazendo-a ficar na forma de um arpão. Atirou o arpão na água no na intenção de acertar Set, mas o cobre atingiu o corpo de Hórus e ele soltou um grito de dor dizendo: 
    "Liberta-me Ísis, minha mãe. Eu peço para que teu cobre deixe-me em paz. Sou eu, Hórus, teu filho!" 
    E Ísis gritou dirigido-se ao arpão de cobre: 
    "Sai dele e vê, ele é meu filho, Hórus. É meu filho!"
    E o cobre saiu do corpo de Hórus.
    Então ela atirou novamente o arpão na água e atingiu o corpo de Set. Ele gritou dizendo:
    "O que foi que eu fiz contra ti, irmã Ísis? Eu peço que teu cobre me deixe em paz! Eu sou teu irmão materno!"
    Então ela sentiu uma imensa compaixão por Set. Ele a chamou dizendo:
    "Você prefere ter um estranho do que seu irmão materno, Set?"
    E Ísis chamou o arpão dizendo: 
    "Deixa-o em paz. Este que alvejaste é o irmão materno de Ísis. É meu irmão." 
    Então o arpão saiu do corpo de Set.
    Hórus ficou furioso por sua mãe ter poupado a vida de seu inimigo e saiu da água com a face de uma pantera do Alto Egito. Ele voltou com sua clava que na mão. Hórus decepou a cabeça de sua mãe, levantou-a em seus braços e subiu a montanha. O corpo dela transformou-se numa estátua sem cabeça feita de sílex. 
    Atum perguntou a Thot: 
    "Quem é essa que chegou agora e que não tem cabeça?" 
    E Thot disse a Atum: 
    "Meu bom senhor, aquela é Ísis, a Grande. Hórus, seu filho, decepou sua cabeça." 
    Atum gritou alto e disse à Enéade: 
    "Que Hórus seja severamente punido por esse crime!" 
    A Enéade subiu as montanhas para procurar Hórus, filho de Ísis.

    Naquele momento Hórus havia se deitado sob uma árvore de shenusha nas terras do oásis. Set o encontrou, imobilizou-o, derrubou-o de costas no chão da montanha, removeu seus dois olhos e os enterrou na montanha para que iluminassem a terra. Os dois olhos transformaram-se em dois touros que se transformaram em duas flores de lótus. Set, então, foi até Atum-Rá-Horakhty e disse-lhe em falsidade:
    "Não encontrei Hórus."
    Então, Hathor, Senhora de Sicômoro do Sul partiu e encontrou Hórus deitado e chorando no deserto. Ela capturou uma gazela e tirou seu leite e então disse a ele: 
    "Abra os olhos para que eu possa colocar este leite neles."
    Ele abriu os olhos e ela colocou um pouco do leite na cavidade esquerda e um pouco na direita.
    Novamente ela disse:
    "Abra os olhos." 
    Ele abriu e ela viu que eles estavam curados.

    Hator foi a Atum-Rá-Horakhty e contou:
    "Eu encontrei Hórus depois que Set havia retirado seus olhos, mas eu o curei. Veja, ele retornou."
    A Enéade disse: 
    "Que Hórus e Set sejam convocados para que possam ser julgados novamente." 
    Então eles foram trazidos diante da Enéade. O Senhor Universal disse para Hórus e Set:
    "Obedecei minhas ordens. Uma régua deve ser feita. Comei e bebei juntos para que tenahmos paz, pois estamos cansados de violências."
    E Set falou a Hórus: 
    "Vem, vamos fazer uma trégua em minha casa."
    Hórus disse três vezes: 
    "Assim será. Assim será. Assim será."

    Então, ao por do sol, uma cama foi preparada para eles e os dois se deitaram. Durante a noite, Set fez seu pênis ficar ereto e o colocou entre as coxas de Hórus. Mas Hórus colocou a mão entre as coxas e pegou o sêmen que Set queria derramar dentro dele. Depois ele foi contar a sua mãe:
    "Ajuda-me, minha mãe. Vem ver o que Set fez comigo." 
    Ele abriu a mão e mostrou o sêmen de Set. Ísis deu um grito alto, fez aparecer uma faca de cobre e cortou a mãe de Hórus. Então ela fez um unguento perfumado e o aplicou no pênis de Hórus. Ela o fez ficar ereto, inseriu-o numa jarra e fez o sêmen de Hórus derramar-se lá dentro.
    Pela manhã, Ísis caminhou pelos jardins de Set carregando o sêmen de Hórus. Ela perguntou ao jardineiro: 
    "Qual tipo de vegetal Set come em sua companhia?"
    E o jardineiro falou: 
    "O único vegetal que ele come em minha companhia é o alface." 
    Então, Ísis derramou o sêmen no alface.
    Set, como sempre fazia, chegou em casa de seus afazeres, comeu o alface e foi fecundado com o sêmen. Ele foi até Hórus e disse: 
    "Vem, vamos até o tribunal para mais uma audiência." 
    E Hórus respondeu três vezes: 
    "Eu irei. Eu irei. Eu irei."
    Os dois foram ao tribunal e ficaram na presença da Grande Enéade que lhes ordenou:
    "Falem por si mesmos." 
    Set disse: 
    "Que seja eu o agraciado com o encargo do Governante, pois em Hórus eu realizei um ato de masculinidade."
    A Enéade gritou. Eles xingaram e cuspiram na face de Hórus, mas Hórus riu deles. Ele fez a seguinte declaração: 
    "Tudo o que Set diz é mentira. Que o sêmen dele seja convocado para que possamos ouvir de onde ele responderá. Depois convoquemos o meu e veremos de onde ele responderá."
    Então, Thot, Senhor da Escrita e escriba da Verdade, colocou sua mão no ombro de Hórus e chamou:
    "Sai, oh sêmen de Set." 
    E a resposta veio das águas no interior do pântano. 
    Thot pôs a mão no ombro de Set e chamou: 
    "Sai, oh sêmen de Hórus."
    Então veio a resposta de dentro de Set. 
    "Por onde devo sair?" 
    Thot respondeu:
    "Sai pela orelha." 
    E o sêmen respondeu: 
    "Como posso sair pela orelha sendo eu uma semente divina?"
    Então Thot disse
    "Sai então pelo topo da cabeça."
    E um disco solar dourado emergiu da cabeça de Set. Ele ficou extremamente furioso e levantou a mão para agarrar o disco, mas Thot o pegou primeiro e colocou-o como uma coroa em sua própria cabeça. E a Enéade disse: 
    "Hórus está certo e Set está errado."
    Furioso, Set soltou um grito de raiva e disse:
    "Hórus está certo e Set está errado? Ele não deve ser coroado antes de mais um desafio. Construamos construir barcos de pedra e realizemos uma corrida. Aquele que vencer deverá ser agraciado com o encargo do Governante." 
    E assim foi feito.

    Hórus construiu para si um barco, mas não usou pedra. Ele o fez de pinho, cobriu-o com uma pasta de gipsita para que parecesse pedra. Lançou-o na água ao anoitecer sem que ninguém o visse.
    Set viu o barco de Hórus e pensou que era feito de pedra. Ele foi até uma montanha, cortou seu topo e construiu para si um barco de pedra de 138 cúbitos. Eles embarcaram em seus barcos na presença da Enéade e o barco de Set afundou. 
    Ele ficou furioso, transformou-se num hipopótamo e afundou o barco de Hórus. Este pegou seu arpão de cobre e o atirou no corpo de Set. Neste momento a Enéade gritou: 
    "Não o machuques!"
    Hórus puxou seu arpão de volta, guardou-o em seu barco e velejou seguindo a correnteza até a cidade de Saís para falar com Neith, a Grande.
    Ele a disse o seguinte:
    "Que um julgamento seja feito entre mim e Set, pois já faz oitenta anos que comparecemos ao tribunal. Eles foram incapazes de fazer uma escolha e Set não conseguiu provar que está certo. Apesar de eu já ter vencido mil vezes ele ainda não aceita a derrota. Eu o combati em diversos duelos e o venci em todos."
    Neith mandou uma mensagem à Enéade relatando as reclamações de Hórus. A Enéade então disse a Shu, filho de Rá: 
    "Hórus, filho de Ísis está correto em tudo o que diz".
    Thot disse ao Senhor Universal: 
    "Que uma mensagem seja mandada a Osíris para que ele faça o julgamento." 
    Então Shu, filho de Rá, falou: 
    "O que Thot disse deve ser feito." 
    O Senhor Universal disse a Thot: 
    "Senta-te e compõe uma mensagem para Osíris para que saibamos o que ele tem a dizer."

    Thot sentou-se e escreveu a Osíris uma mensagem com as seguintes palavras: 
    "Oh Osíris, Grande Touro, Leão Solitário, criador humanidade, Rei do Alto e Baixo Egito, filho de Ptah, Pai da Enéade. Por favor, escreva-nos dizendo o que devemos fazer por Hórus e Set para que não exerçamos nossa autoridade com ignorância."
    A carta logo chegou a Osíris, o Rei, filho de Rá, Valoroso Mestre. Ele soltou um grito depois que a carta foi lida em sua presença e a respondeu muito rapidamente mandando uma mensagem para onde o Senhor Universal estava reunido com a Enéade. Ela dizia:
    "Por que meu filho, Hórus, deveria ser preterido? Fui eu quem deu poder a vós e fui eu sozinho quem criou a cevada e o trigo para o sustento dos deuses assim como o gado que os segue, coisas que nenhum outro deus ou deusa teve vontade de fazer."
    Então a carta de Osíris chegou onde Atum-Rá-Horakhty estava com a Enéade, no Monte Branco em Xois. Ela foi lida em sua presença e ele disse: 
    "Que esta carta seja respondida prontamente a Osíris. Nós lhe diremos o seguinte: 'Mesmo se tu não existisses e se não houvesses nascido, a cevada e o trigo ainda existiriam."
    A mensagem do Senhor Universal chegou a Osíris e foi lida em sua presença. Então, ele novamente escreveu a ele e disse o seguinte:
    "Tudo o que fizeste é extremamente bom, oh Grandes Mestres da Enéade, mas a justiça acaba de morrer e afundar ao submundo. Por favor, considerai sabiamente a situação, pois, sabei, a terra em que habito está cheia de criaturas selvagens que não temem nenhum deus ou deusa. Eu os libertarei e eles buscarão os corações daqueles que cometerem injustiças e eles serão trazidos a mim. Lembrai vos da razão pela qual estou aqui no oeste, no submundo, enquanto estais  aí, do lado de fora. Quem entre vós é mais poderoso que eu? Vede só, vós inventais a injustiça. Quando Ptah, o Grande, criou o céu ele disse às estrelas: 'É no oeste onde vive o rei Osíris que deveis descer todas as noites.' Mais tarde ele disse a mim: 'Agora, além das estrelas, tanto deuses quanto príncipes e plebeus irão descansar no lugar onde estás
    Logo a carta de Osíris chegou ao lugar onde o Senhor Universal estava com a Enéade. Thot recebeu a mensagem e a leu na presença de Atum-Rá-Horakhty e da Enéade. Eles disseram:
    "O Grande e Valoroso Mestre está duplamente correto em tudo o que diz." 
    E Set falou aquiescendo: 
    "Então vamos até a Ilha do Meio para que o reinado seja passado."
    Todos foram à Ilha. Por ordem de Atum, Ísis trouxe Set algemado. Atum disse a ele:
    "Por que não aceitas nossos juízos e tentas usurpar o lugar de Hórus?" 
    Set respondeu:
    "Não mais farei isto meu bom senhor. Que Hórus, filho de Ísis seja chamado e agraciado com o encargo de seu pai.
    Hórus, filho de Ísis, foi trazido e a Coroa Branca foi colocada sobre sua cabeça e ele foi colocado no encargo de seu pai, Osíris. Todos dissertam a ele:
    "Tu és o bom Rei do Egito. Tu és o bom senhor de toda a terra por toda a eternidade." 
    Então Ísis gritou de alegria por seu filho dizendo:
     "Tu és o Rei. Meu coração está cheio de alegria. Tu iluminas a terra com tua presença."
    Então, Ptah, o Grande disse: 
    "O que faremos com Set agora que Hórus foi colocado na posição de seu pai?" 
    Atum-Rá-Horakhty disse: 
    "Que Set, filho de Nut seja entregue a mim para que viva comigo como um filho. Quando em fúria ele lançará trovões no céu e será temido."

    Atum-Rá-Horakhty e disse: 
    "Hórus, filho de Ísis, ergueu-se como Governante. Alegrai-vos em todas as terras."
    A Enéade estava em festa. Seus corações estavam satisfeitos e toda a terra exultante ante a visão de Hórus, senhor de Busiris.