quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ennuma Elish - Tábua I

 Tábua I >> Tábua II
  1. Quando nas alturas os céus ainda não tinham nome,
  2. E a terra abaixo não havia ainda sido nomeada,
  3. Havia o Abismo Primordial de Abzu,
  4. E havia o caos de Tiamat, a mãe de todos.
  5. E suas águas se misturaram.
  6. Mas nem campos nem pântanos haviam sido criados.
  7. Dos deuses nenhum havia sido chamado à existência.
  8. Ninguém tinha nome e nenhum destino havia sido decretado.
  9. Então, nos domínios celestes, os deuses foram criados.
  10.  Lahmu e Lahamu se formaram e foram chamados à existência.
  11. O tempo passou e eles cresceram adquirindo grande estatura.
  12. Anshar e Kishar, mais magníficos que seus pais, foram criados.
  13. As eras se estenderam.
  14. Anu, o filho deles, fazia frente a seus pais.
  15. Anu era igual a Anshar.
  16. E ele gerou Ea-Nudimmud, seu semelhante.
  17. Nudimmud, era o maior que seus ancestrais.
  18. Transbordante era sua sabedoria e enorme era sua força.
  19. Era muito mais forte que o pai de seu pai, Anshar.
  20. Ele não tinha rivais entre os deuses, seus irmãos.
  21. E os divinos irmãos se uniram.
  22. Seu clamor era poderoso e eles perturbavam Tiamat.
  23. Os nervos de Tiamat estavam abalados.
  24. Com suas danças eles causaram distúrbios em Anduruna.
  25. Abzu nada fez para diminuir a agitação.
  26. E Tiamat os confrontava silenciosamente,
  27. Embora a conduta de seus filhos a perturbasse.
  28. Mas, embora eles a incomodassem, ela queria poupá-los.
  29. Então, Abzu, o progenitor de todos os deuses,
  30. Chamou Mummu, seu vizir, e disse a ele:
  31. "Oh Mummu, vizir que alegra meu espírito.
  32. "Vem comigo até Tiamat. Vamos!"
  33. Então eles foram e sentaram-se diante de Tiamat,
  34. E conversaram para decidir o que fazer com os deuses, seus filhos.
  35. Abzu abriu a boca para falar.
  36. E para dentro de Tiamat, a Reluzente, ele enviou as palavras:
  37. "O comportamento deles tornou-se desagradável para mim,
  38. "Durante o dia eu não tenho descanso e a noite não posso dormir em paz.
  39. "Devo destruir e acabar com essas atitudes impensadas.
  40. "Deixe que lamentem e que o silêncio reine, para que possamos ter paz ."
  41. Quanto Tiamat ouviu essas palavras,
  42. Ela enfureceu-se e gritou alto para seu esposo,
  43. Chorou magoada e  começou a fumegar.
  44. Ela entristeceu-se com as intenções malignas que lhe haviam sido reveladas:
  45. "Como podemos destruir aquilo que criamos?
  46. Apenas conformemo-nos com a dificuldade e poderemos dormir em paz."
  47. Mummu respondeu e aconselhou Abzu,
  48. E hostil foi o conselho que Mummu deu contra os deuses: 
  49. "Vem, meu pai. Eles vivem na anarquia e tu deverás acabar com isso.
  50. Só assim terás descanso durante o dia e à noite poderás dormir em paz."
  51. Abzu ouviu cuidadosamente e seu rosto estava satisfeito,
  52. Pois Mummu havia planejado coisas más para os deuses, seus filhos.
  53. Mummu pôs os braços ao redor do pescoço de Apsu,
  54. Sentou-se nos seus joelhos e o beijou.
  55. E os planos que eles fizeram,
  56. Foram reportados a seus filhos, os deuses.
  57. Os deuses ouviram e ficaram frenéticos.
  58. Cheios de lamentação, eles se sentaram melancólicos.
  59. Ea, que entre todos era o mais habilidoso e sábio.
  60. Ea, aquele que conhece tudo, tomou conhecimento da traição.
  61. Ele criou um plano que resolveria tudo.
  62. Ele executou-o habilmente para que fosse eficaz - criou um encantamento poderoso.
  63. Ea recitou-o e enviou-o nas águas.
  64. Ele pulverizou sono sobre Abzu e o fez dormir profundamente.
  65. Colocou Abzu para dormir enquanto espalhava o sono.
  66. Mummu, o conselheiro perdeu a respiração quando viu aquilo.
  67. Ea rompeu os tendões de Abzu e arrancou sua coroa.
  68. Retirou sua aura e a colocou sobre si.
  69. Ele prendeu Abzu e o matou.
  70. Confinou Mummu e o acorrentou firmemente.
  71. Ele fez sua casa no corpo de Abzu.
  72. E manteve as correntes de Mummu firmes em sua mão.
  73. Depois que Ea havia aprisionado e matado seus inimigos,
  74. E alcançado vitória contra seus rivais,
  75. Ele descansou calmamente em sua casa,
  76. A qual ele deu o nome de Abzu onde vários templos ele construiu.
  77. Criou várias câmaras dentro dele.
  78. Ea e Damkina, sua esposa, repousaram no esplendor.
  79. E na Câmara dos Destinos, o Salão dos Arquétipos,
  80. Bel-Marduk, o mais sábio dos sábios foi concebido.
  81. Foi em Abzu que Marduk nasceu.
  82. No puro Abzu, Marduk nasceu.
  83. Ea, seu pai, foi quem o gerou.
  84. Damkina, sua mãe, foi quem o concebeu.
  85. Ele sugou os seios da deusa.
  86. Ela o amamentou e o tornou terrível.
  87. Sua figura desenvolveu-se, o olhar em seus olhos era fulgurante.
  88. Ele cresceu em virilidade, era poderoso desde o começo.
  89. Anu, o progenitor de seu pai o viu.
  90. Ele contentou-se e sorriu, seu coração estava cheio de alegria.
  91. Anu reconheceu sua perfeição: sua divindade era admirável.
  92. E ele tornou-se sublime excedendo todos os outros em seus atributos.
  93. Seus membros eram incompreensivelmente maravilhosos.
  94. Era impossível compreender sua existência com a mente, era difícil até de se olhar.
  95. Quatro olhos e quatro orelhas ele tinha.
  96. Chamas avançavam quando ele movia seus lábios.
  97. Suas orelhas cresceram.
  98. E seus olhos podiam ver tudo.
  99. Sua figura era suntuosa e superior quando comparada à dos outros deuses.
  100. Seus membros eram poderosos e sua natureza era superior.
  101. 'Marduk, Marduk,
  102. O Filho, O Deus-Sol, o deus dos deuses.' 
  103. Ele era revestido com a aura de dez deuses, tamanho era seu poder.
  104. Todos os horrores repousavam nele.
  105. Anu forjou e fez nasceram os quatro ventos,
  106. E os entregou a ele: "Meu filho, faça deles o seu turbilhão."
  107. Ele criou poeira e mandou o furacão para controlá-la.
  108. Ele criou uma onda para trazer desolação a Tiamat.
  109. Tiamat estava desorientada. Dia e noite ela se afligia.
  110. Os deuses não pararam para descansar, eles [...]
  111. Em suas mentes eles planejavam maldades.
  112. Mandaram uma mensagem a Tiamat, a Mãe:
  113. "Quando Abzu, teu esposo, foi morto,
  114. Tu não foste junto a ele, mas sentou-se em silêncio.
  115. Agora os quatro ventos terríveis foram criados para causar-lhe desolação.
  116.  Nós não descansaremos.
  117. Tu não choraste por Abzu, teu esposo,
  118. Nem por Mummu que está aprisionado, e agora estás só.
  119. Daqui em diante viverás em grande consternação.
  120. Não podemos descansar, pois não somos amados por ti.
  121. Entenda nossa dor. Nossos olhos estão vazios.
  122. Que acabe sua soberania para que possamos dormir.
  123. Venha à guerra! Vingue-os!
  124. [...] reduza a nada!"
  125. Tiamat ouviu a provocação e sentiu prazer.
  126. Ela disse: "Faremos demônios assim como aconselhastes."
  127. Outros deuses juntaram-se a ela. 
  128. Eles planejaram maldades contra os deuses, seus irmãos.
  129. Eles [...] e ficaram do lado de Tiamat.
  130. Ferozes eram seus planos e eles estavam irrequietos.
  131. Urgiam pela batalha, rugindo e fazendo tempestades.
  132. Faziam provocações para ocasionar conflito.
  133. Mãe Hubur, que deu forma a todas as coisas,
  134. Supriu-os com armas invencíveis e criou serpentes gigantes e monstruosas.
  135. De dentes afiados e presas impiedosas.
  136. Com veneno em vez de sangue ela preencheu seus corpos.
  137. Os furiosos monstros-víboras ela revestiu de terror.
  138. Adornou-os com esplendor divino, deu-lhes imensa estatura.
  139. Ela disse: " Que aqueles que os contemplarem pereçam de pavor.
  140. Ide sempre em frente e nunca recuai."
  141. Ela criou a Hidra, o Dragão, o Herói Cabeludo,
  142. O Grande Demônio, O Cão Selvagem e o Homem-Escorpião,
  143. Ferozes demônios, o Homem-Peixe e o Homem-Touro.
  144. Eles portavam armas cruéis e não temiam a luta
  145. Seus comandos eram tremendos, nada podia resistir.
  146. Depois, da mesma forma, ela fez onze monstros.
  147. Dentre os deuses que eram seus filhos, aqueles que a haviam ajudado,
  148. Ela exaltou Kingu e o glorificou em meio aos outros.
  149. Para marchar na frente dos exércitos, para liderar as tropas.
  150. Para portar as armas, realizar campanhas, mobilizar o conflito.
  151. O comandante da batalha, Chefe Supremo.
  152. Nele ela depositou grande confiança e colocou-o num trono. Ela disse:
  153. "Eu proferi teu encantamento e o promovi a comandante dos deuses.
  154. O domínio sobre todos os deuses a ti eu confiei.
  155. Que sejas exaltado, meu esposo, e serás famoso.
  156. Que teu comando seja supremo entre os Anunnaki."
  157. Ela deu a ele as Tábuas do Destino. Em seus seios ela os segurou dizendo:
  158. "Teu comando nunca será desrespeitado e a palavra de tua boca será obedecida."
  159. Depois que Kingu havia sido exaltado e recebido o poder de Anu,
  160. Ele decretou o Destino dos deuses e seus filhos dizendo:
  161. "Que o comando de vossa boca derrote o Deus-Fogo!
  162. Que vosso veneno e vosso poder terminem com os conflitos."

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